Monday, 1 July 2013

"Our Dutch Sandra"


disse o J. para o seu companheiro, o M, após eu lhe ter contado, em holandês, tudo o que fizémos no jardim, nas últimas semanas. Estou com um sorriso de orelha a orelha. Mesmo os sms's que lhes envio são sempre em holandês. A sério, que me esforço. Faço os possíveis por falar em holandês com a vizinhança, sendo que a F. é a que puxa mais por mim. Não me dá tréguas e gosto muito dela, também, por isso.

Há pouco, atendi um telefonema que decorreu exclusivamente em holandês. Nas lojas, nos restaurantes e nos cafés, faço questão de me expressar também na língua nativa - mesmo quando tentam mudar para inglês (os lojistas daqui gostam de mostrar que sabem falar a língua de Shakespeare). E quando não sei, pergunto. No dia em que comprei o spray facial da Evian, pedi ao lojista que me dissesse em holandês " O senhor salvou o meu dia." (eu estava a sentir-me mal com a humidade) e ele até escreveu num papel como era. Tenho pena que durante o curso de holandês, os professores não tenham ensinado expressões idiomáticas . Mas não há problema, que já comprei uns livrinhos sobre o tema.

Mesmo em conversas ou reuniões mais sérias, já vou arriscando, embora saiba que ainda há muito chão pela frente....

Por outro lado, também mudei de atitude face aos meus erros. Antes de vir para cá, sentia-me muito desconfortável ao errar, e agora, não. Durante o processo de aprendizagem de holandês, tive de aprender a pôr a vergonha de lado, quer quanto à pronúncia da língua, quer quanto à construção frásica. Hoje, de uma forma geral, já me sinto menos penalizada quando erro e aprendi também a aceitar melhor os meus lapsos e enganos  -  há dias, no blogue, escrevi uma frase interrogativa em inglês, em que o verbo auxiliar estava no presente e o verbo principal no passado quando devia estar no infinitivo. Assim que vi, corrigi, claro, mas já não me senti "doente" por causa disso e até me ri da situação. A experiência de aprendizagem da língua holandesa acabou assim, por se revelar assaz libertadora, ao ensinar-me a aceitar melhor os meus erros, enganos, lapsos e limitações.

(Texto reeditado a 3 de Julho para precisar melhor o último parágrafo)


8 comments:

Edelweiss said...

Parabéns, Sandra, é uma língua complicada e o mais difícil é precisamente falá-la. Conheço uma portuguesa que está cá há 10 anos e ainda não consegue dizer uma única palavra, apesar de já ter tido dezenas de horas de aulas! Bjs

Presépio no Canal said...

Obrigada, Carla! :-) Digamos que vou falando, dá para o dia-a-dia. Adquirir vocabulário leva muito tempo. É preciso ler muito, consultar o dicionário, fazer listas de palavras, escutá-las, pronunciá-las, aplicá-las. É um trabalho longo e árduo. No início, sentia-me muito perdida e frustrada. Vai aos poucos...:-)Tudo a correr bem!
Bjs!

Margarida Elias said...

Estás de facto de parabéns - quer pela integração no holandes 8língua, costumes, etc.) quer pela libertação. Acho que também precisava... :) Bjns!

Presépio no Canal said...

Obrigada, Margarida. Compreendo o que queres dizer - nós, os escorpiões, somos perfeccionistas e, às vezes, os meios em que estamos inseridos também nos policiam muito, com o dedinho apontador...
Uma das minhas professoras dizia que se eu queria aprender holandês, tinha de me permitir errar sem vergonha, e se queria singrar socialmente, tinha de ser mais assertiva(na relação com os médicos, por ex.)
Bjs!

Margarida Elias said...

São bons conselhos - mesmo aqui, nestas bandas - apesar de que acho que os portugueses estão sempre prontos a criticar e policiar, mais do que os holandeses. Bjns!

Presépio no Canal said...

Margarida: Concordo inteiramente e era aí que queria chegar...Bj grande!
:-)

ana said...

Não se deve ter vergonha de errar porque ao errar aprendemos conscientemente. Também adorava ser perfeita mas fico tão longe.
Parabéns pela persistência, a integração e coragem. :))
Beijinhos. :))

Presépio no Canal said...

Concordo, inteiramente, Ana, mas habituei-me toda a vida a ter bons resultados escolares e de repente não "pescava" uma. :-)) O factor idade (já tinha 37 anos) acabou por me fazer sentir ainda mais embaraçada. Ou seja, numa altura de vida em que devia estar no apogeu das minhas competências, vi-me, de repente, a aprender o B-A-BA como os pequeninos...:-)) Depois, correu tudo bem. Tive professores que, além de competentes e exigentes, foram muito humanos e isso ajudou-me muito.
Happy end! :-))

Beijinho! :-)