Wednesday, 6 November 2013

Sei que tenho estado ausente...


Sei que tenho estado ausente. A todos peço desculpa. Este mês e meio, além de uma vida social um bocadinho mais intensa, andámos mais ocupados com as pinturas e remodelações no primeiro andar da casa. Por outro lado, foi também um período que nos trouxe algumas apreensões, duas ou três das quais vou partilhar aqui e agora, pois podem ser de alguma utilidade, sobretudo àqueles que estão a ponderar emigrar para cá.

A situação económica na Holanda, como é do conhecimento geral, tem vindo a piorar nos últimos 5 anos e, por isso, o discurso do Rei, no passado dia 17 de Setembro, em Haia, não me surpreendeu, muito embora, me tenha deixado preocupada. 

Para quem não sabe, na terceira terça-feira de Setembro, dá-se o discurso do Rei, no Parlamento, em Haia. Este dia é conhecido como o Prinsjesdag. O Rei lê o discurso elaborado pelo governo, apresentando assim as principais medidas para o ano parlamentar que se inicia. O discurso deste ano foi um sinal bem claro do fim do Estado Social nos Países Baixos tal como o conhecemos. Este artigo, cuja leitura aconselho, sobretudo aos leitores que estejam a ponderar emigrar para a Holanda, dá uma ideia geral das actuais medidas de austeridade e da realidade que nos espera.

Segundo entendi, através de leituras posteriores, no que toca aos apoios à velhice, por exemplo, estes vão diminuir substancialmente e é esperado que os idosos do futuro (nós) fiquem sobretudo sob a responsabilidade dos familiares e até dos amigos (!). Neste ponto, não percebi exactamente como fica a situação daqueles que não têm filhos e cujos familiares estão espalhados por outros países e, por isso, sem lhes poder dar a assistência necessária, nem tão pouco a situação daqueles que emigraram tardiamente e, como tal, sem o mesmo nível de descontos/reforma daqueles que chegaram cá aos 18 anos. Estes dois grupos de pessoas (e especialmente aqueles que encaixam em ambas as categorias como é o nosso caso) vão deparar-se com mais dificuldades no futuro, em custear lares ou apoios domiciliários privados... E com as actuais medidas de austeridade, poupar para esse futuro torna-se ainda mais difícil.

Se alguém tiver informações mais rigorosas sobre este tema e quiser partilhar, agradeço. É bem possível que me esteja a falhar aqui alguma coisa, visto o meu domínio da língua nativa ser limitado. Já falei com várias pessoas, mas também não sabem explicar muito mais. Ando cada mais sensível a estas questões, especialmente devido ao que vou acompanhando da minha mãe em Portugal com as recentes mudanças legislativas ao nível dos impostos e da actualização das rendas de casa. No caso do IRS, a minha mãe passou a pagar 10 vezes mais e no caso da renda de casa, esta quadriplicou. São muitas mudanças para a minha mãe, cujo único desejo é estar sossegada. Valeu, pelo menos, o apoio legal gratuito da junta de freguesia no que toca à negociação com o senhorio.

No início de Outubro, a minha mãe deixou-me deveras preocupada. Estava tão em baixo que julguei que a perdia - vi a situação muito mal parada. Agora, parece mais animada, mas tenho muito receio de depressões nestas idades e circunstâncias. A minha mãe já só dá passinhos de bébé, não se aguenta de pé a cozinhar, e sempre que precisa de ir a algum lado, tem de ser de táxi. Também não pode estar dobrada a costurar nem ocupar-se com as tarefas domésticas. E sofre muito, psicologicamente, com todas estas limitações, como é compreensível. Mas tem muitas ajudas e ainda quer estar na sua casa. Já lhe disse para vir cá passar o Inverno, que a casa é mais quentinha, é um r/c e não tem de se preocupar com nada. Vamos ver se a convenço...
Não me canso de dizer que a situação dos nossos mais velhos é algo a ter em conta quando pensamos em emigrar, sobretudo, quando o pai ou a mãe é viúvo e tem problemas de saúde. Nestas situações, deixármos uma rede afectiva e efectiva de apoio é muito importante. Caso contrário, o nosso coração anda sempre aos pulos. 

Muitas mudanças cá e lá, sobretudo a nível legislativo. Devemos estar mesmo no fim de um ciclo histórico. Até várias coisas cá em casa "deram o berro" ao fim de 10 anos de utilização. :-)) Uma delas foi a máquina de café expresso, cujos preços aqui são muito elevados, na ordem dos 400 euros em diante. Há-de ser a próxima compra quando formos a Portugal, onde, com 100/150 euros, conseguimos encontrar uma máquina de café expresso bem jeitosa. Nos entretantos, vamos utilizando uma cafeteira das avós e estamos muito bem. Por isso, já sabem: a emigrar para cá, não se esqueçam de trazer uma máquina de café expresso no enxoval...
;-)))




10 comments:

APS said...

Há que respeitar os silêncios que, muitas vezes, são outra espécie de música. Ou como dizia D. João II: "há um tempo de milhafre e um tempo de coruja".
A Sandra esteve a tomar balanço e, pelo que vejo (e tenho lido, por cá), as coisas, por aí, também não vão bem...
Seja como for, saúdo o seu regresso, escrito.

Presépio no Canal said...

Obrigada, APS. :-)
Preciso mesmo de silêncio em situações de mudança: para recolher informação, pensar bem, tomar balanço, como diz. É importante manter a calma para levar o navio a bom porto...

Angela said...

Como compreendo essa parte do nosso coração andar aos pulos... Embora a situação dos meus pais nem seja minimamente comparável à da tua Mãe, não consigo deixar de pensar neles e de querer tê-los aqui para estarem por perto e poder estar mais descansada, pois a idade não perdoa.
Espero que a tua Mãe se deixe convencer e passem um Inverno aqui bem gezellig :)
bjinhos

Presépio no Canal said...

Deus te ouça! O receio da minha mãe é dar-me trabalhos e limitar-me os movimentos, além de que algo pior aconteça por cá. Receios próprios da idade...Vamos lá ver se, com jeitinho, consigo trazê-la cá, pelo menos, um mês...;-)
Beijinhos e tudo a correr bem por aí! :-)

Margarida Elias said...

O mundo está muito complicado e também acredito que estamos a assistir ao fim de um ciclo histórico. Confesso que acho assustador porque me parece um mundo cada vez mais desumano e, em contrapartida, mais dependente da tecnologia.
O tempo dirá no que isto vai dar, mas por vezes tenho a sensação que nos aproximamos de uma realidade do estilo do «Blade Runner» ou do «Minority Report».
Para já, fico preocupada com a tua mãe.
Bjns e que tudo corra pelo melhor!

Presépio no Canal said...

Obrigada, Margarida. :-)
Compreendo o que queres dizer...Temos de ser mais unidos e tem de haver mais interajuda, assim como no caso da minha mãe, em que as relações de vizinhança e de primos funcionam; Caso contrário, é muito preocupante. Nós temos um continente envelhecido e a empobrecer... Vamos ter mesmo de nos ajudar... Quando olho para a situação da minha mãe, só espero, um dia, vir a ter a mesma sorte...Ainda ontem a minha madrinha foi lá fazer-lhe companhia(como vai todos os dias a bem dizer); e faz-lhe as compras na praça e no talho e vai ao banco pagar-lhe a renda de casa; o sr do café leva-lhe refeições caseirinhas diariamente, o neto da outra vizinha vai despejar o lixo e buscar o pão, a senhora que lhe limpa a casa também é impecável... Eu vejo que as pessoas ajudam com gosto, com verdadeira amizade (sem aquela postura da pena e do coitadinha) e é esta entourage amiga e afectuosa que permite que a minha mãe ainda esteja em casa, sem necessidade preemente (ainda) de ir para um centro de dia e lá deparar-se com outras situações mais difíceis.
Rezo para, um dia, termos a mesma sorte: poder ficar o maior tempo possível nas nossas casas e rodeados de afecto.
:-)
Beijinhos!

Os olhares da Gracinha! said...

Se a entendo!
O nosso pais mergulhado numa crise...poupar (se é que é possível!)...é a palavra de ordem!
(Pior é os que não têm nem para poupar!)
Quanto aos nossos amores...minha mãe fintou a morte e agora acamada ...impressiona a sua serenidade e nós vamos mimando-a o melhor que sabemos e podemos!
Quanto à máquina do café...café é sempre café com seu cheiro inconfundível!
Bj

Presépio no Canal said...

Eu gosto muito destas cafeteiras. Trazem-me memórias da infância. :-)
Até acho que o cheirinho é melhor...:-))
Um beijinho para si e outro para a sua mãe. :-)


GL said...

Os problemas, cá como aí e um pouco por toda a Europa (mundo), vão num crescendo cada vez mais assustador.
Os problemas sociais agravam-se a cada dia que passa. O caso dos idosos - felizmente a sua mãe vai tendo vários apoios -, em muitos casos é verdadeiramente dramático. A juntar aos aspectos que refere, aumentos da renda, redução das pensões, etc., ainda têm que ajudar os filhos a quem o desemprego bateu à porta.
Estamos a viver, sem sombra de dúvida, um virar de página, mas muito doloroso.
Era óptimo que a mãe fosse passar aí uns tempos convosco, oxalá consiga convencê-la.
Beijinho.

Presépio no Canal said...

Conheço algumas situações dessas (o caso de alguns familiares) e que, por isso, estão a tentar emigrar, mas também sem sucesso em encontrar trabalho no exterior. Aqui, por exemplo, cada vez pedem mais o domínio da língua holandesa...
Um beijinho, GL, e obrigada pelos seus votos.