Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva, arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
Longamente bebem
o silêncio
nas próprias mãos.
O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
Eugénio de Andrade, Algumas reflexões sobre as mulheres
5 comments:
Gostei muito, sobretudo da escultura. Muitos beijinhos e feliz dia da mulher! :-)
Casam lindamente, escultura e palavras. As palavras inigualáveis de Eugénio.
Oportuna postagem, Sandra, pelo casamento da escultura com a poesia !
E viva A MULHER !
Um beijo muito amigo.
Bela escultura e poema.
A escultura é linda. :)
Bom dia!
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