Sunday, 5 October 2014

Da Versalhes ao Chiado



No dia seguinte, 17 de Setembro, depois de uma noite bem dormida (o colchão era uma maravilha!), tomo um duche, visto-me e saio para tomar um pequeno-almoço tardio. Estou no Hotel-Residencial Itália, na Visconde Valmor, uma zona que conheço bem. Afinal, 18 anos da minha vida foram passados nas Avenidas Novas. No entanto, ao pôr o pé na rua, sinto-me um pouco desorientada e pergunto em que direcção fica o Saldanha (!!!). As cores claras dos prédios Arte Nova, o tráfego, a luz da cidade, deixam-me, por momentos, um pouco tonta. As casas holandesas são mais escuras (preto, vermelho escuro,...), o céu mais cinzento e fechado, e o local onde moro mais parece um resort de tão calminho que é. Daí esta minha confusão momentânea. Noto também que há muita coisa nova à minha volta, que não reconheço. E avanço devagar. Para tomar o pulso à cidade. 

Nem sempre quando vou a PT, vou a Lisboa, ou, quando vou, tenho muito tempo para passear, para reconhecer as mudanças. É sempre uma corrida, entre assuntos a tratar e visitas a fazer. Desta vez, nem a minha mãe sabia que estava em Portugal. Não queria preocupá-la com as cirurgias que ia fazer e só tencionava visitá-la depois do inchaço do rosto passar. 

Chego à Avenida da República e entro na Pastelaria Versalhes, onde já não ia há muitos anos. Peço um sumo de laranja natural, um café....e um toucinho do céu. Soube tão bem, tão bem!... Já aqui disse que sinto muitas saudades das nossas pastelarias e da nossa doçaria. Deixei-me ficar um pouco. Por fim, levantei-me. Havia que apanhar um táxi que me levasse à Avenida dos Combatentes...

Tinha uma consulta de higiene oral, dois TAC's e os moldes para fazer. Havia que me preparar para a cirurgia do dia seguinte. Gostei muito da consulta com a Higienista. Achei tudo mais sofisticado, limpo e simples do que aqui. Nada de palitos de madeira, de gengivas a sangrar. Gostei dos jactos de água salgada (pareceu-me que era disso que se tratava) e que me desse a escolher o sabor do flúor. Cá, não costumo ter destes miminhos. A consulta dos moldes também foi muito gira. Uma equipa jovem, simpática, que me fez sentir em casa e mais descontraída. Eu nunca tinha colocado implantes e confesso que estava um pouco nervosa. A boa disposição dos meus cuidadores foi, por isso, muito importante nesta fase.

No final da tarde, voltei ao Hotel, descansei um pouco e depois apanhei o autocarro até à Baixa. Queria jantar cedo, comer um bitoque, saborear um gelado no Santini, subir a Rua Garrett. Estes momentos, só meus, de um primeiro contacto com a cidade, souberam-me muito bem. Lisboa pareceu-me incrivelmente mais bonita, sofisticada e muito mais viva que há dois anos. A Nova Paris, pensei... Não me lembro de alguma vez ter visto tantos turistas estrangeiros em Lisboa, como desta vez, sobretudo franceses ... Parecia que a Europa se tinha mudado de armas e bagagens para o Chiado...Encontrei, neste curto e pequeno passeio, uma Lisboa dinâmica, feérica, vibrante, com os espaços bem aproveitados: deparei-me com muitas esplanadas, novas pastelarias, novos restaurantes, muita animação de rua e lojas de produtos tradicionais com designs arrojados ...Muito embora ainda se notem sinais da crise, achei as pessoas mais leves e sorridentes, a cidade mais viva... Fiquei orgulhosa como certas pessoas se reinventaram e não cruzaram os braços...Lojistas e taxistas que abraçaram novos desafios para fazer face aos cortes nos salários e nas pensões ou por não encontrarem emprego na sua área de formação...Parecia que o pior já tinha passado (Será? Deus queira que sim!)... Apetecia-me ficar mais um pouco, naquela noite de alegria contagiante, mas impunha-se que voltasse...No dia seguinte, logo de manhã, teria início a minha cirurgia para colocação dos 3 implantes e remoção de um dente do siso. O corpo partiu em direcção ao Rossio para apanhar um táxi, mas o coração ficava lá atrás, no Chiado, na cor, na luz e no movimento.

(continua...)

E hoje, que Portugal completa 871 anos (5 de Outubro de 1143, Tratado de Zamora), não queria deixar de partilhar os momentos de Esperança que senti neste dia. Desejo a Portugal e a todos os meus compatriotas tudo, tudo de bom. Bem hajam!

8 comments:

Margarida Elias said...

Estou a gostar deste teu passeio - fiquei com saudades da Versalhes e da Santini. Vivo em Lisboa, mas com o corropio, não dou conta de tudo. Quanto à TAP, não sei... Beijinhos!

Presépio no Canal said...

:-) Beijinhos!!

João Menéres said...

Maravilhosa descrição, Sandra !
E que bom é estares calma !...
Aguardo a postagem de amanhã !

Um beijo.

Presépio no Canal said...

Obrigada, João. És muito querido! :-)
Geralmente, sou uma pessoa calma e paciente. Permite-me manter o foco e saborear mais da vida. Não sei explicar melhor...os sentidos ficam mais despertos, fico muito receptiva ao que se passa à minha volta. Beijinho grande. :-)

Sami said...

Ainda bem que achou Lisboa mais movimentada e alegre, sinal de melhores dias? Espero bem que sim!

Presépio no Canal said...

Também eu, Sami, também eu...:-)

ana said...

Memórias muito bonitas.
Beijinho. :))

Presépio no Canal said...

Sem dúvia, Ana. Nesta viagem, tive muitos pequenos-deliciosos presentes, em termos de momentos bons. Foi uma estadia muito, muito prazeirosa. Adorei.
Beijinho!