Dos meus "choques culturais", nesta visita à terra-mãe...
1. Vi crianças mascaradas!!
E as primeiras, logo no aeroporto, e gostei muito. No entanto, como já não estou habituada, parecia que estava perante algo "exótico" ou diferente. Há 8 anos, que não sei o que é o Carnaval. Vivemos acima dos grandes rios (Reno, Escalda e Mosa), uma área maioritariamente Protestante e, portanto, onde não se festeja o Carnaval. Neste momento, o Carnaval já não faz parte da minha realidade e acabo até por me esquecer.Tanto assim, que ainda não conheço o Carnaval de Maastricht, na província do Limburgo, a sul dos grandes rios, onde existe maior número de Católicos. Da mesma forma, que deixei de saber de cabeça a quantos é a Páscoa - já não tenho a Quarta-Feira de Cinzas, para contar os 40 dias a partir daí...Agora, só consultando o calendário...
Contudo, esperava ter visto mais crianças mascaradas nas ruas de Lisboa. Também notei que as poucas que vi estavam sempre acompanhadas pelos pais e pareciam vir de alguma festinha. Parece-me que, actualmente, os festejos são mais indoor que no meu tempo. Nos anos 70 e princípios de 80, viam-se mais crianças nas ruas e muitas vezes, em grupos de amigos, sem os pais. Havia até um hábito estúpido que eu não gostava nada: atirar ovos e farinha. Desta vez, e ainda bem!, não vi nada disso...
2. Não fui convidada a despachar o meu chá e a sair porque estava a 15 minutos da hora de fecho do estabelecimento.
Nos Países Baixos, ou, pelo menos, na zona onde vivo, a hora de fecho dos estabelecimentos é respeitada religiosamente. Já vi clientes a serem barradas à entrada de certas lojas porque estavam a 5 ou a 10 minutos da hora de fecho. Quando falta um quarto de hora para encerrar, muitas lojas começam a retirar o que têm em frente à porta (expositores, cabides com roupa, cestos, etc) e a arrumar as bancadas de atendimento, para encerrar à hora estipulada. Às vezes, parece um passe de mágica, de um grande desassossego para o silêncio total. Da mesma forma, que já entrámos às 16h30 em certos locais para tomar chá e mostraram pouca vontade em servir porque iam fechar às 17 horas (talvez se deva ao facto de recearem que possamos fazer sala, ou seja, demorar - os holandeses, pelo que observo, tomam o seu lanche de forma muito relaxada, embora mais cedo que nós). Já chegámos a ser apressados para nos despacharmos 10 minutos antes da hora do fecho, quando o meu chá até já ia no final (nem me soube de proveito...).
Desta vez, em Portugal, aconteceu uma situação semelhante, mas já não me senti "posta na rua". Passo a explicar... Para variar, o avião partiu com 45 minutos de atraso e aterrou uns 20 minutos mais tarde que o previsto. Depois, entre esperar para sair, percorrer a parte nova do aeroporto, ir ao wc, levantar as malas, tomar um cafezinho e apanhar um táxi eram umas 15h45 quando saí em direcção ao Hotel-Residencial onde fiquei alojada nos primeiros dois dias. Entre chegar, fazer o check-in, ter dois dedos de conversa com o sr. da recepção, que me reconheceu e quis saber como estava, subir ao quarto, refrescar-me, retirar coisas da mala e arrumá-las, eram 17h20, quando saí para ir lanchar à cafetaria do Museu Gulbenkian. Quando cheguei, fiz o meu pedido (uma fatia do meu pudim flã favorito e um chá de menta) e, na caixa, fui informada, simpaticamente, que fechavam daí a 15 minutos. Mas depois, em nenhum momento, fui incomodada, apressada ou "corrida". Tinha sido atendida, avisada com um sorriso, e deixaram-me estar à-vontade a saborear o meu pudim e o meu chá. Aqueles 15 minutos souberam-me muito bem. Senti-me calma, tranquila, a sorrir, satisfeita. Neste aspecto, dei comigo a pensar que bom é chegar e estar em Portugal!
3. Tomar chá à hora do chá, a um Domingo.
Sempre gostei muito de ir a casas de chá e, quando vivia em Portugal, ia com frequência, sobretudo, ao fim-de-semana. A hora do lanche, para mim, sempre foi depois das 17h/17h30, mas desde que vivemos nos Países Baixos, que deixámos de ter essa possibilidade (de gozá-la fora de casa) e sinto-lhe muito a falta.
É muito difícil, de acordo com a minha experiência, aqui na zona, encontrar uma sala de chá ou um local onde se possa lanchar a partir das 17h. Às 17h30, já os restaurantes começam a encher para o jantar e, só há poucos anos, começámos a ter comércio aberto todos os Domingos, sendo que encerra tudo às 17h. Por isso, foi com muito prazer que, em Portugal, gozámos da liberdade de descansar à tarde, sabendo que depois das 17h, iríamos encontrar sítios com fartura onde lanchar e bem. E foi tão bom!
4. Quando fazemos exames médicos em Portugal, ficamos com "as provas do crime".
Nos Países Baixos, sempre que fiz ecografias, mamografias, radiografias, análises e citologias, nunca me foram dadas as películas, os cd's com as imagens, relatórios ou registos escritos dos mesmos. Os resultados vão todos directamente para os médicos. Compreendo o lado prático da questão, mas, como paciente, prefiro ter esses registos comigo porque, facilmente, vou onde quero com esses exames (no caso de querer uma segunda opinião ou querer mostrá-los a um médico em Portugal). Acho que ficamos mais defendidos com os registos nas nossas mãos. Prefiro, por isso, como se faz em Portugal, onde nos dão as películas, os cd's e um relatório devidamente assinado, sem necessidade de pedir por isso e pagar mais alguma coisa. Sinto-me bem mais protegida, tendo acesso directo aos dados e sabendo quem é o responsável pela análise dos mesmos. Depois, há a questão dos custos. Este ano, por exemplo, paguei pela minha consulta de ginecologia do ano passado, com ecografia (sem entrega de películas, cd ou relatório), €290!! Senti-me "roubada". Uma vez que esta despesa caiu na franquia anual do seguro (um pouco acima dos 300€), tive de pagá-la na totalidade. Visto isto, decidi passar a ser seguida em Lisboa, onde, com €110, faço uma ecografia com uma das melhores ecografistas do país, equipamento de última geração e ainda recebo as películas e o relatório. Uma vez que, em épocas baixas, conseguimos preços de avião bem atractivos (tenho pago à volta dos €130), compensa-me bastante: vejo aqueles que me são queridos, apanho sol, como bem e barato (quando comparado com a minha presente realidade), venho com a saúdinha tratada e dou o meu contributo para a economia da Pátria.
;-)
5. Voltei a ser mulher! ;-) Há muitas lojas giras de bijuteria e joalharia.
Mesmo que não se possa comprar, sempre dá para regalar as vistas.
Noto que têm surgido lojas muito interessantes nesta área, com peças muito bonitas e criativas. Uma delas, e que gostei muito, foi a da Ana Silva, a
Design for you, na Avenida de Roma. Ainda fiz lá umas comprinhas. É raro comprar alguma bijuteria para mim, durante o ano, cá. Por isso, gosto de aproveitar quando vou a Lisboa, onde encontro mais variedade e criatividade. Nos Países Baixos, as lojas parecem-me sempre as mesmas (ou sou eu que não sei onde ficam as mais interessantes), acho tudo muito banal e as mulheres parecem andar todas de igual (um tédio!). Também fiquei muito feliz por saber que a
Fábrica dos Chapéus tem agora uma loja em Bruxelas. Mais uma empresa portuguesa a internacionalizar-se. Bem bom!
6. Voltei a ser uma senhora! ;-))
Nos restaurantes, fui SEMPRE servida em primeiro lugar (ou seja, antes do cavalheiro acompanhante), do tasco mais simples ao restaurante mais fino. SEMPRE!