Hoje o meu coração são nomes e rostos que significam Humanismo e Gratidão. Hoje o meu coração tem um nome imenso, onde ainda faltam nomes que não fixei, mas cujos rostos e vozes não esqueço: Pim, Marleen, Joyce, Jimmy, Eleanora, Femke, Sabine, Nicole, Yvette, Lara, Vlemmix, Berghuis, Muller, Leiden, Rutten, Heijink, Hendriks, Oesha, Jacqueline, Hank, Sheran, Reinou, Mi, Rob, Zahara,...Estes são os nomes dos meus principais cuidadores (três magníficos dos seis cirurgiões que estiveram no teatro de operações durante quase 6 horas, médicos-assistentes e enfermeiros, a ajudante que me dava o banho na cama, a senhora do Patient Lounge, as enfermeiras do Home Care). Com todos tive uma história, ou mais que uma, que ficará para a minha História. Para eles vai a minha Gratidão por todo o seu Humanismo. Porque faz hoje 3 meses, com tudo o que se passou depois. E volto a dizer, faltam aqui nomes, que não memorizei: malta que foi chamada para ajudar quando a situação, por vezes, ficava mal parada (como os anestesistas para me tirar sangue, quando não se conseguia à nona tentativa, ou mais enfermeiros, como aquela que me disse "a senhora vai sair disto" quando estava num momento mais crítico e já pensava "que era desta que patinava"); a enfermeira que me fez a cistoscopia e me relaxou para esta intervenção, dizendo-me durante o procedimento que era preciso ter coragem quando se é o paciente; e aqueles que foram estando lá sempre, embora em Portugal sejam considerados quase invisíveis ou pouco importantes, como a senhora do catering (que me disse que se preocupava comigo e andava sempre numa ralação porque eu não comia nada ou muito pouco), ou a da limpeza do quarto ( que me perguntava sempre como estava e ficava um bocadinho a conversar comigo), bem como os maqueiros (sempre atentos, com um sorriso, bem-dispostos e com dois dedos de conversa, muito importante quando vamos ansiosos para algum exame ou intervenção; já sem falar na imensa sensação de fragilidade que é andar a passear de cama no hospital). Desde os cuidadosos médicos da Dor, aos médicos e técnicos de Diagnóstico e às equipas de Radiologia de Intervenção (e daqui também a primeira recepcionista) e de Medicina Nuclear, que me aturaram choros, quebras, dores, falta de mobilidade, a todos devo um Muito obrigada. Do que se passou ao longo destes 3 meses, haveria muito para contar...
Ao Dr Pim, agradeço, sobretudo, o facto de me ter vindo visitar todos dias durante o meu primeiro internamento em Abril ( entretanto, ele saiu a trabalho por largas semanas para o Caribe) e ficarmos a conversar como se o tempo não importasse (especialmente no segundo dia, assim que soube que eu estava mais embaixo). Um excelente médico e cirurgião e dono de uma simplicidade ímpar. Um senhor. À Eleanora, uma Ennio Morricone da enfermagem, tal a graciosidade com que executa os mais simples movimentos da profissão (não esqueço a delicadeza dos gestos com que refrescava o rosto das pacientes, o meu incluído, ou a dignidade com que transportava os jarros do xixi). Foi também com ela que fiz as primeiras tentativas para me sentar e dar os primeiros passos. À Yvette, a enfermeira que me trouxe um chá na madrugada em que deixei a epidural para a morfina (era ela que estava responsável por mim nessa noite), de forma a dar-me um pouco mais de conforto para o impacto das dores que depois senti. À Dra Marleen, que nunca me escondeu nada (tal como o Dr Pim) e que ficou frustradíssima pela situação que correu mal durante a cirurgia (eu não fiquei propriamente espantada, pois sabia que era um dos riscos que corria numa intervenção como esta) e me garantiu e coordenou toda a assistência posterior. Uma timoneira, que comandou o barco muito bem, quando, ainda por cima, surgiram complicações posteriores e conflitantes entre si. Às médicas que me socorreram nos episódios de urgência (Vlemmix e Muller) e com quem eu já tinha estado anteriormente - só tive de telefonar para o hospital e assim que lá chegava, subir para o departamento, onde era atendida com muita privacidade e num ambiente sereno, para ficar depois. Às enfermeiras que depois das altas me telefonavam a perguntar se estava tudo bem - prática standard e que muito apreciei. Às Dras Berghuis e Leiden, que preparam muito bem toda a minha transição do hospital para casa com os serviços de Enfermagem Domiciliária (thuiszorg), os serviços de trombose e a Mathot, a empresa que envia o material de enfermagem para nossas casas, juntamente com a enfermeira Sabine, que, no último dia, sentada na minha cama, me disse: " A senhora é muito forte". À Oesha e à Jacqueline, as enfermeiras especializadas que cuidaram muito bem de mim, já em casa. E à Mathot, que nunca falhou no envio do material, que eu tinha de mudar impreterivelmente a cada cinco dias. Por último, queria salientar que em nenhum momento tive o trabalho ou a preocupação de marcar consultas, exames, intervenções, etc, a partir do momento em que dei entrada no hospital. Tudo foi decidido entre as diversas equipas que me seguem ( são 3 departamentos distintos, mas que têm trabalhado em conjunto) e marcado por eles, que, entretanto, me foram comunicando as datas, através dos planos de acompanhamento, cada vez que voltei para casa ( o mesmo sucedeu há dias, e já tenho tudo marcado até Outubro). Da mesma forma, que estão em comunicação permanente com a minha médica de família, enviando-lhe relatórios detalhados, e dos quais recebo exemplares em papel, apesar de publicados na minha página no site do hospital, na qual também são colocados os resultados de todos os exames e as datas das consultas. Assim como também achei muito bom o facto de as enfermeiras registarem tudo electronicamente durante as rondas: medicamentos tomados (morfina, paracetamol, antibióticos, injecções de heparina, comprimidos para o enjoo. etc), medições várias (tensão arterial, nível de oxigénio no sangue, temperatura). Uma questão de segurança para elas e para nós, aqueles computadores rolantes, onde cada colega de turno registava tudo o que se tinha passado com a paciente.
Durante todo este tempo, acho que nunca senti que estava num hospital (e olhem que foram vários internamentos). O sossego da enfermaria (e eu tanto fiquei em quartos de uma como de quatro camas), a organização, o espírito de equipa, a Arte por todo lado (esculturas, pinturas), o lounge dos Pacientes, a zona comercial e de restauração, as condições do quartos, a gaivota que me vinha visitar à janela, tudo contribuiu para que me sentisse num espaço amigável, onde estava a ser muito bem cuidada. Acima de tudo acho que nunca esquecerei a amabilidade das pessoas, das recepcionistas aos médicos, muito importante quando experienciamos situações de grande fragilidade (não conseguir mexer, sentar, levantar, andar, tomar banho, como foi o meu caso, por exemplo). O Dr Pim chegou a perguntar-me se iria escrever sobre o que se estava a passar. Tinha-lhe dito que não, que era demasiado pessoal ( e de certa forma, continuo a manter a parte que me toca mais resguardada). Mas depois rectifiquei e disse " Só se for para ajudar outros expats com informação útil e tranquilizante", que, espero ter passado, pelo menos alguma, nem que seja uma mensagem de confiança. Por outro lado, também queria escrever um post sobre eles, os meus cuidadores (por uma questão de justiça). Espero ter conseguido. Ontem não foi possível, com a humidade e o calor abafado. E sinto que este post ainda não acabou, porque gostava de contar mais sobre cada um deles. Talvez um dia ainda volte aqui.
E porque falámos do Sting, eu, o meu marido e a Femke, num fim-de-semana muito crítico para mim, no passado mês de Maio...Eu, desta canção; a Femke, de outra que gosto muito, Fields of Gold.