Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter nascido ainda durante o Estado Novo e no ano em que Salazar morreu (1970).
Lembrar-me da imagem do Marcello Caetano na televisão (no programa semanal "Conversas em Família").
Lembrar-me dos slogans e imagens dos diversos partidos políticos, no pós- 25 de Abril, nos murais de Lisboa. Tantos desenhos coloridos nas paredes...
Ter andado nos autocarros de 2 andares em Lisboa. E lembrar-me que eram verdes. E de passarem carros na Rua Augusta e haver só duas linhas de metro.
Ser do tempo em que a televisão era a preto e branco e só começava à hora de jantar e terminava, pelas 23:00, com o hino nacional.
Recordar a excitação com as emissões a cores (a partir de 1980). Toda a gente queria comprar uma TV a cores...
Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter visto os Vikings, a Heidi, o Marco e a Abelha Maia por esta ordem.
Ter chorado baba e ranho com o Marco e cantado "Lá num país cheio de cor..." com a Abelha Maia. A cantora do genérico era uma senhora que, mais tarde, ficou conhecida como Ágata.
Ser fã incondicional da Heidi. O bolo de aniversário dos meus 6 anos era da Heidi. Fui escolhê-lo com o pai. Também descobri que não havia Pai Natal por causa da Heidi (vi a mãe a esconder o mealheiro da Heidi que me foi oferecido nesse ano...).
Gostar muito de ver o Topo Gigio (1979). Nunca tive o boneco (comprar brinquedos naquela época era muito caro e nós não podíamos - a situação do país naquela altura era muito difícil, o pai já havia falecido e o estilo de vida era agora bem mais modesto). Um dia destes, se encontrar o Topo Gigio, compro. Coisa fofa!
E o D'Artagnan e os Três Mosqueteiros. Sempre gostei muito de capa e espadas.
Vibrar com os Festivais da Canção. Lembro-me de ter adivinhado que a Manuela Bravo ia ganhar (1979). Tinha de ser! Eu gostava ( e ainda hoje gosto) muito de balões. ;-)
E vibrar também com os Jogos Sem Fronteiras.
Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter assistido ao início da transmissão de novelas brasileiras. A loucura que era com a Gabriela e a pena que eu tinha da Escrava Isaura...
A Família Bellamy (Upstairs/ Downstairs), revista inúmeras vezes, ao longo dos anos. Esta série irá servir de inspiração para outra muito conhecida 40 anos mais tarde: Downton Abbey.
A história de Upstairs/ Downstairs nasce numa conversa entre duas grandes actrizes, na cozinha de uma delas. Estou a falar de Dame Eileen Atkins e Jean Marsh (esta, a inesquecível Rose).
Upstairs/Downstairs terá uma segunda série em 2010, que também achei muito boa. Desta vez, Dame Eileen Atkins participará também como actriz.
Upstairs/Downstairs terá uma segunda série em 2010, que também achei muito boa. Desta vez, Dame Eileen Atkins participará também como actriz.
Reviver o Passado em Brideshead, que me tornou fã do Jeremy Irons até hoje (que voz!). E a música do genérico, linda!
Tommy and Tuppence - Partners in Crime, um casal de detectives criado por Agatha Christie. Ainda hoje, a Francesca Annis é uma das minhas actrizes favoritas. Fez também uma Lillie Langtry fabulosa, absolutamente impecável.
Dallas. Era o Domingo à noite, se me recordo bem, e não falhava. JR Ewing era o vilão mais amado naquele tempo.
Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter brincado na rua e ir a pé. sozinha, para a escola.Fazer 45 anos em 2015 é...
Dar caminhadas com o avô, ir aos figos e às amoras. Ainda hoje, dou Graças a Deus ter sido criança nesta época.
Ter trepado às árvores, caído e esfolado os joelhos e não ser o fim-do-mundo por causa disso. Tratava-se com álcool e não havia cá choradinhos. "O que arde, cura" dizia o meu avô.
Entrar na Escola Primária com 7 anos ( 1977, 3 anos após o 25 de Abril).
No estrado, cantávamos " Uma gaivota voava, voava..." (para os mais impacientes, escutar a partir de 00:50 - a parte mais bonita e alegre).
A nossa colega Anabela, muito à frente, já cantava no estrado, Another Brick in the Wall, dos Pink Floyd (1979).
Ter uma colega na Primária que era retornada. Lembro-me que era muito doce e boazinha, mas muito pobre ( veio sem nada de África).
Lembrar-me que na época (entre 1977 e 1986), só comprávamos roupa nova em épocas festivas (Aniversário, Natal, Páscoa e nos Santos Populares; um par de botas, sapatos e ténis tinham de dar para todo o Inverno).
Ir a casa da madrinha quando precisávamos de telefonar ou receber chamadas. A maioria das pessoas não tinha telefone. Também se ia ao café para telefonar.Ir aos mandados para a avó e comprar quartos de café, que vinham embrulhados em papel.
Fazer 45 anos em 2015 é...
Lembrar-me do Mário Soares, na televisão, a dizer que tínhamos de apertar o cinto e ouvir a minha mãe dizer que já não tinha mais furos para apertar. Nessa época, tivemos dois resgates: em 1977 (ano em morreu o meu pai) e 1983, sendo que, no primeiro, os bens estiveram racionados. A nossa vida havia mudado muito (já não fazíamos um mês de férias no Algarve, nem festas de aniversário, nem comprávamos roupa e brinquedos como antes, etc.). O ordenado da minha mãe mal chegava ao fim do mês.
Para mim, Presidentes da República foram o Ramalho Eanes e o Valéry Giscard - D'Estaing. Foram os primeiros que conheci e se tornaram míticos na minha cabecinha infantil. O primeiro inspirava-me seriedade e o segundo era da França, onde viviam muitas pessoas minhas conhecidas ( a França, para mim, era um segundo Portugal, sobretudo Paris). Os restantes PR's portugueses...foram só isso, os restantes. Não os achei grande coisa.
Lembrar-me como se fosse hoje da morte de Sá Carneiro. E para mim, foi um atentado, o que aconteceu ali, em Camarate.Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter andado na Telescola (a mãe dizia que havia muito consumo de droga no Ciclo Preparatório e queria manter-me afastada desses ambientes). Tinha aulas pela Televisão e só duas professoras presenciais (uma para Letras e outra para Ciências, Matemáticas e Artes). Lembro-me que tinha de apanhar o autocarro para o campo ( a telescola ficava numa aldeia). Ia sozinha, mais percurso a pé. E no Inverno, chegava a casa já de noite. Era uma gaiata, mas desenvencilhava-me muito bem.
O ensino era muito exigente e ainda hoje guardo as fichas diárias. No Liceu, diziam que vínhamos mais bem preparados.
Na Telescola, só aprendíamos Francês. O meu, à época, era um primor. E foi assim até aos 25 anos, altura em que deixei de praticar como antigamente (cheguei a dar explicações durante vários anos). Da primeira vez que fui a Paris, ninguém suspeitou que era portuguesa e muitos me diziam que o meu Francês era melhor que o deles (nativos). Hoje, já está muito esquecido e tenho pena.
Fazer 45 anos em 2015 é...
Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter dançado o meu primeiro slow ao som do FR David, "Words", em 1982.
Ser do tempo do gira-discos, dos discos de vinil, dos singles e dos LP's.
Ser do tempo das máquinas de escrever eléctricas.
Ser do tempo em que se dançava slows nas discotecas.
Vestir roupa verde-tropa e tentar dançar Breakdance.
Mais tarde, veio a fase do Heavy Metal. A minha mãe, muito compreensiva, lá me coseu um monograma dos Manowar numa camisola preta.
Marcou-me para a vida e por isso, nunca toquei nem nas leves, nem nas pesadas. E não gosto, nem permito que se fumem drogas leves ao pé de mim ( faz-me lembrar como os vi começar).
Fazer 45 anos em 2015 é...
Vibrar com filmes e séries de dança moderna como, por exemplo:
Flashdance (1983)
Fame (anos 80)
( e as palavras da Debbie Allen que ainda hoje sei de cor)
Ter cantado ao som dos Band Aid em 1984 por causa da fome e da pobreza que grassava na Etiópia.
Ter vibrado com o Live Aid, no Verão de 1985. Saudades imensas do Freddie Mercury...Era uma força da Natureza.
Chorar a rir com as minha séries de eleição: Allô, Allô , Yes, Minister e Blackadder
Fazer 45 anos em 2015 é...
Lembrar-me da abertura do Centro Comercial das Amoreiras (1985). Havia muita gente que organizava excursões a Lisboa só para visitar este centro comercial.
Assistir, ainda nesse ano, pela TV, à entrada de Portugal na CEE (Comunidade Económica Europeia), hoje União Europeia.
Lembro-me que fiquei muito contente e com mais esperança no futuro.
Entretanto, vivíamos os últimos anos da Guerra Fria , em que o Pacto de Varsóvia ainda vigorava.
Mas Gorbachev e a Perestroika indiciavam que o Leste mexia e estava em mudança. E era verdade...
Ver, a dias dos meus 19 anos, pela TV, a Queda do Muro de Berlim (Novembro de 1989). E ficar feliz!
Estrear, nesse mesmo ano, a PGA (Prova Geral de Acesso). Estudei tanto!
Mas só entrei na Faculdade na 3a fase, já em Abril de 1990.
Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter ido aos concertos do Carlos Paredes e do Steve Vai, dois virtuosos da guitarra (o primeiro na guitarra portuguesa, o segundo na guitarra eléctrica), na Aula Magna, quando andava na Faculdade.
Ter gritado "Não Pagamos, Não pagamos!!", quando foi da introdução das propinas. Hoje, acho que devemos pagar, de acordo com os nossos rendimentos, para poder financiar melhores bolsas de estudo a quem realmente precisa.
Assistir horrorizada, pela TV, ao Massacre de Santa Cruz em Timor, a poucos dias dos meus 21 anos (Novembro de 1991).
E cantar depois, com os Trovante, Timor (como se fosse uma prece, que ainda hoje me emociona).
Fazer 45 anos em 2015 é...
Ter feito o Inter Rail numa época em que ainda não havia telemóveis nem emails. Quando saíamos de Santa Apolónia, era a liberdade total. Para telefonar, usávamos o Marconi Phone Card, com chamadas a pagar no destino. E na época, ainda não havia euro. Havia sim, pesetas, francos, liras, dracmas, marcos,...Estávamos em meados de 90.
Ter assistido ao aparecimento e vulgarização dos telemóveis, da internet, do email, dos cartões multibanco, dos cd's...
E tantas outras coisas que poderia contar aqui...
E agora, a poucos dias de completar 45 anos, saber pela Internet, dos atentados em Paris...
Mas, o que realmente importa salientar aqui e agora, é que, ao longo destes anos, a Alegria e a Esperança foram sempre aquilo que privilegiei.
Deixo-vos com um dos poemas da minha vida, O Haver, pela voz do próprio autor, Vinicius de Moraes (1913-1980).
Bom fim-de-semana!
E tantas outras coisas que poderia contar aqui...
E agora, a poucos dias de completar 45 anos, saber pela Internet, dos atentados em Paris...
Mas, o que realmente importa salientar aqui e agora, é que, ao longo destes anos, a Alegria e a Esperança foram sempre aquilo que privilegiei.
Deixo-vos com um dos poemas da minha vida, O Haver, pela voz do próprio autor, Vinicius de Moraes (1913-1980).
Bom fim-de-semana!
20 comments:
Ena, pai, tanta coisa!..:-)
Esqueceu, talvez, que em 1970, se podia jantar por vinte escudos, vinho incluído. E bem.
Acrescento no meu arquivo de memória que a Sandra, para além de ser Escorpião-Gémeos (de ascendente), tendo nascido na chamada "cúspide", (21/11) entre signos, terá também algumas características de Sagitário.
Um dia muito bom e um quadragésimo quinto ano, ainda melhor!
Muitos parabéns, cordialmente!
Faz anos? Se sim, PARABÉNS!!!
E gostei do poste.
Vou geminar no Prosimetron.
MUITOS PARABÉNS!!!!
Muito Obrigada, APS!
Vinte escudos um jantar? Que giro!!
Conheço mal os Sagitários. Agora fiquei curiosa...:-)
MR,
É verdade! O tempo voa...:-))
Muito Obrigada!! Irei ver o post no Prosimetron, com carinho. :-)
Obrigada, Margarida!! :-))
Beijinho!!
Gostei imenso desta lista, foram 45 anos cheios de recordações :) Muitos parabéns!
Muito Obrigada, Agnes! :-)
E queria ter partilhado mais, mas o post já ia muito, muito longo (dos últimos 20 anos, não contei nada praticamente).
Beijinho! :-)
Muitos parabens Sandra e felicidades!
Gostei imenso de ler este post com tantas boas (e algumas mas) recordacoes.
O seu Pai faleceu bastante cedo, a Sandra era tao novinha ainda.
Apesar de ser 10 anos mais velha e nao ter ido viver em Portugal ate 1984, tambem me lembro de muitas destes eventos.
Quem gostava muito da serie da Abelha Maia e da Heidi eram os meus filhos (ja na Europa), em Mocambique onde nasci e vivi nao havia TV.
Parabéns, Sandra, mil parabéns.
Uma data comemorável 45 é um número especial. Adorei as tuas memórias e esta viagem pela história recente. Tanta coisa que passou por mim também, Reviver o Passado em Brideshead, Tommy and Tuppence, A Família Bellamy, adorei, o Allô, allô, o Blakadder, o Yes Minister, o Fame... Os Queen.
Deliciosas estas memórias. Um dia muitoooooooooooo feliz.
Soube através da MR.
Mais logo coloco uma surpresa no (IN) Cultura).
Beijinhos. :))
Parabéns. E obrigada por esta visita a um passado que também é meu. Felicidades
Muito Obrigada, Sami. :-)
É verdade, Sami, o meu pai partiu 2 meses antes do meu 7 aniversário. Mas guardo muitas memórias dele, pois, lucky me, era um pai muito presente. :-)
Moçambique não tinha TV nos anos 60. Que interessante...Só a Metrópole é que tinha, pois, realmente...Nunca tinha pensado nisto...
Beijinho! :-)
Ana,
Muito Obrigada!! Muita coisa boa, não é? E ficou tanto por mencionar...:-)
Já vou ao teu cantinho ver a surpresa. :-) Muito obrigada!
Isabel,
Muito Obrigada! Felicidades também para si. :-)
Booommm...são uns belos 45 anos. Quem assim gasta tempo com um post, não pode ser má pessoa:) Parabéns.
Obrigada, Bea. Que bom que gostou do post - fui fazendo aos poucos ao longo destes dias. Mesmo assim falta aqui tanta coisa...
Ah, fazia anos e não dizia!:)
Soube através da Ana, do (In)Cultura. Um blogue que vai muito para além disso. É um espaço muito especial, onde para além da cultura e beleza, também se preza a Amizade.:)
Que belo percurso de vida, o seu! 45 anos cheios de história, mas história vivida, registada, gravada. Que bom acompanhá-la nesse recordar de acontecimentos, muitos deles acompanhados/partilhados por muitos de nós.
Muitos parabéns, um óptimo dia cheio de coisas boas, daquelas que aquecem o coração.
Um grande beijinho para si, sem esquecer a sua Mãe. Hoje também é dia de festa para ela.:)
GL, Muito Obrigada pelas suas palavras!!
Foi um dia muito giro - gostei muito!
Todos os anos faço um post sobre o meu aniversário, sobre o que fiz nesse dia (gosto muito de registos/notas), mas, desta vez, resolvi adiantar-me e fazer um post diferente, retrospectivo, por ser a data que é. O outro post sobre o dia em si, que é habitual, seguirá dentro de momentos ( dias, vá, que hoje estou cansadinha).
Beijinhos! Bom Domingo!
Parabéns linda! Suas recordações fizeram_me viajar no tempo o que me soube lindamente! Bj amigo
Obrigada, Graça! :-) Que bom que gostou e o post a fez viajar. :-)
Às vezes, precisamos...:-)
Beijinho e boa semana!
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