Thursday 14 March 2013

Obrigada por tudo, meu querido, obrigada



Jack: Why love, if losing hurts so much? I have no answers anymore: only the life I have lived. Twice in that life I've been given the choice: as a boy and as a man. The boy chose safety, the man chooses suffering. The pain now is part of the happiness then. That's the deal. 

(Shadowlands, 1993)

Só sei, que neste momento, ele deve estar a correr pelos jardins do Paraíso.
Aconteceram muitas coisas nestas duas semanas. Contarei aqui, mais tarde - agora é tempo de recolhimento. E não, não foi  de eutanásia que ele faleceu, embora estivesse marcada para amanhã. Foi de morte natural - como era nosso desejo, desejo dele - na nossa casa, nos meus braços, com tempo e com amor como ajuda.
Nestes últimos dias, fomos particularmente felizes juntos. Combinámos que um dia, ele voltaria à minha vida, desta vez "para pagar o favor": como voluntário, na minha velhice, e que, nos meus últimos dias, me daria as minhas comidas favoritas, me levaria a apanhar sol e a ver o mar, e reuniria as minhas amigas para uma tarde final bem passada.
Lutou até ao fim. Foi o mais corajoso de nós todos. A insuficiência renal "viu-se grega" com ele. Foi hoje, à 01:45. Nós os dois, sozinhos, como soubémos sempre que iria ser. O meu marido não teve mesmo oportunidade de estar presente, mas isso foi um mero pretexto do Universo, que este momento - estava escrito-,  tinha de ser só nosso. Contudo, ainda falaram ao telefone e a segunda-feira foi mais deles que outra coisa.
Tenho chorado muito nestes dias. Muito, muito. Como disse, ele foi sempre o mais corajoso dos dois. Garanto-vos que fez frente à doença até ao final.
Vejo-o em cada canto desta casa, o que fazia aqui, o que fazia ali. É a ela que ele vai regressar, depois da cremação, que se irá realizar amanhã, de forma individual e com direito a uma salinha privada para nos despedirmos.
No exacto momento depois da sua morte, começou a cair neve da forma mais bonita que alguma vez vi. Fiquei a ver pela janela da cozinha, parada, encantada. Foi o presente-surpresa que ele me enviou para me tranquilizar nesta hora difícil e dizer que estes 16 anos valeram muito a pena, e, como tal, tinham de ser celebrados com um espectáculo bonito, de algo que gostássemos muito.
O carinho e a coragem que ele revelou, a entrega e a generosidade, as graças permanentes, a fidelidade constante, o apoio incondicional, ficarão para sempre no meu coração. Falámos tudo nestes dois últimos dias e creio que as palavras que mais lhe disse foram "Obrigada, Muito Obrigada". E como tudo isto passa muito depressa, vai na volta, é só um "Até já". Obrigada por tudo, meu querido, obrigada.


20 comments:

Margarida Elias said...

Oh Sandra! Minha querida amiga! Ele estará por certo no Paraíso e para sempre nas tuas memórias. É tão triste e doloroso ver partir aqueles que amamos - eu bem sei - e é aquilo de que tenho mais medo na vida. Mas certamente vão-se reencontrar. Digo-te o que digo aos meus filhos - ele é agora uma estrelinha no céu e está lá a olhar por ti. Que Deus te ajude e te dê coragem para ultrapassar a dor - fiquei também triste. Aqui está sol e espero que aí também chegue para aquecer o vosso coração - entretanto a neve é também uma prenda de luz. Muitos beijinhos! Margarida.

Angela said...

Lamento muito pela perda... sei bem o que isso e.
Tive uma gata durante 20 anos, cresci com ela, foi a melhor companheira na minha infancia e adolescencia. Perdi-a uns meses antes de sair da Madeira para ir estudar em Braga. De certa maneira, senti que tinha sido melhor assim pois ja nao estaria la para ela.
Chorei a fio durante uma semana. Depois disso nunca mais tive gatos. Agora, passados 15 anos, acho que gostaria de voltar a ter um companheiro felino. Eles sao fantasticos!

Um beijinho

Presépio no Canal said...

Obrigada pelas tuas palavras, Margarida. Está sol e nada é por acaso. O que ele gostava de sol!E assim tem estado nestes tres dias. E ele aproveitou muitíssimo, ora deitado, na sua caminha, no chão da cozinha, ora na porta de entrada, no tapete de dentro, para ficar mais protegido do frio (embora estivesse coberto por uma mantinha, claro). Lutou como um leão, porque ele não queria ir, nao nos queria deixar. Satisfez-me também o meu último pedido, de morrer em casa, após dois dias muito bem passados. Ainda contava que tivéssemos o dia de hoje, mas já não foi possível.
A Eutanásia estava marcada, mas acho que morreria ali junto, também. Até a veterinária ficou mais satisfeita por ter sido assim.
Obrigada pelas tuas palavras, minha querida amiga. Temos de falar com mais calma, por email. Assim que eu estiver mais forte, um pouco mais calma. Bjs!!

Presépio no Canal said...

Obrigada, Angela, pela partilha da tua história e pelas tuas palavras, nas quais me revi por inteiro. São muitos anos, muita história vivida, como referes.
Aproveito para te desejar felicidades na nova casa, já que não o fiz no teu blogue. Não foi por mal, mas não tenho sido capaz de escrever. Estas duas semanas foram muito duras.
Beijinho!

Teresa said...

Muita força para este momento tão difícil. Beijinhos

Presépio no Canal said...

Obrigada, Teresa, muito obrigada. Muitos beijinhos.

Sami said...

Sinto muito Sandra pela perda do Fofinho. Estamos fora de ferias e vim ver comentarios no meu blog e li este post. Tenho imensa pena, pois os nossos animais sao como familia. Beijinhos

Angela said...

Obrigada e muita força agora!

Presépio no Canal said...

Sami, muito obrigada pelo cuidado e atenção. Vou sentir muito a falta dele. Agora, ao entrar em casa, ia chamando por ele. É exactamente como diz, são família.
Parabéns pelo seu aniversário. Sei que estou atrasada, mas não tenho tido cabeça, sei que me compreende.
Beijinho grande e votos de boas férias!

Unknown said...

Sinto muito a vossa perda, e espero que a estrelinha que se elevou brilhe todos os dias para vocês e mantenha a recordação de uma amizade sem palavras viva!
Passei por isso algumas vezes... custa, custa tanto que poucas são as palavras para o descrever. Aliás, a 2500km de distância, estou a passar pelo mesmo... e não há palavras para descrever o quanto queria poder abraçar, agredecer, e mimar a minha cadelita. Mas a vida é assim mesmo. E eu agradeço todos os dias o bem que estes seres fantásticos no fazem!
Não digas adeus, diz até breve!
E não penses nunca mais terei outro... eles precisam tanto de nós como nós deles.
Força!
Patricia

Presépio no Canal said...

É isso mesmo, Patrícia, não há palavras que descreva. É uma dor imensa, imensa e o que me tem valido é que tenho chorado muito.
Muita coragem também para ti. Deve ser muito difícil acompanhar as coisas de longe. Na última vez que fui a PT, e ele ficou cá, bem sei o que sofri.
Obrigada pelas tuas palavras.

restlessjo said...

Sorry, Sandra. No words... and certainly not to express myself in Portuguese.

Presépio no Canal said...

Thank you, Jo. I loved my cat.

Edelweiss said...

Lamento muito, Sandra. Espero que consigas ultrapassar a dor da perda com calma e tempo - chora tudo o que tiveres a chorar, o tempo que precisares - não se deve apressar o nosso coração.

Presépio no Canal said...

Obrigada, Carla. Concordo inteiramente contigo.
Hoje já me sinto mais calma. Agora a ver se descanso, pois tudo isto foi muito desgastante para mim. Preciso mesmo...

ana said...

Sandra,
Um beijinho...é só o que consigo dizer.
Ana

ana said...

Eu não conseguiria despedir-me assim.
Foste corajosa.
Fujo sempre...

Presépio no Canal said...

Obrigada, Ana, pelo carinho. Eu só queria respeitar a vontade e as indicações que o meu gatinho me ia dando (e acredita que durante todo este processo, li muito, falei com pessoas que passaram pelo mesmo, e com vários veterinários).Mas isso é matéria para outro post. :-)
Ele foi muito feliz até ao fim e agora a minha connsciencia está traquila. Estou em paz. Sei que fiz tudo o que podia e devia ter feito. E isso é bom. E se pensarmos que depois nos vamos sentir assim, a nossa coragem, no momento necessário, redobra. Beijinhos. :-)

APS said...

Uma evocação lindíssima e comovente, esta que fez.
Consigo,
APS.

Presépio no Canal said...

Obrigada, caro APS, pela sua palavras amigas. O meu Fofinho era um gatinho muito especial. Uma falta imensa. Vai devagarinho, agora.