Thursday, 26 March 2015

Dos meus "choques culturais" com a terra-mãe ;-)


Dos meus "choques culturais", nesta visita à terra-mãe...

1. Vi crianças mascaradas!!

E as primeiras, logo no aeroporto, e gostei muito. No entanto, como já não estou habituada, parecia que estava perante algo "exótico" ou diferente. Há 8 anos, que não sei o que é o Carnaval. Vivemos acima dos grandes rios (Reno, Escalda e Mosa), uma área maioritariamente Protestante e, portanto, onde não se festeja o Carnaval. Neste momento, o Carnaval já não faz parte da minha realidade e acabo até por me esquecer.Tanto assim, que ainda não conheço o Carnaval de Maastricht, na província do Limburgo, a sul dos grandes rios, onde existe maior número de Católicos. Da mesma forma, que deixei de saber de cabeça a quantos é a Páscoa - já não tenho a Quarta-Feira de Cinzas, para contar os 40 dias a partir daí...Agora, só consultando o calendário...
Contudo, esperava ter visto mais crianças mascaradas nas ruas de Lisboa. Também notei que as poucas que vi estavam sempre acompanhadas pelos pais e pareciam vir de alguma festinha. Parece-me que, actualmente, os festejos são mais indoor que no meu tempo. Nos anos 70 e princípios de 80, viam-se mais crianças nas ruas e muitas vezes, em grupos de amigos, sem os pais. Havia até um hábito estúpido que eu não gostava nada: atirar ovos e farinha. Desta vez, e ainda bem!, não vi nada disso...

2. Não fui convidada a despachar o meu chá e a sair porque estava a 15 minutos da hora de fecho do estabelecimento.

Nos Países Baixos, ou, pelo menos, na zona onde vivo, a hora de fecho dos estabelecimentos é respeitada religiosamente. Já vi clientes a serem barradas à entrada de certas lojas porque estavam a 5 ou a 10 minutos da hora de fecho. Quando falta um quarto de hora para encerrar, muitas lojas começam a retirar o que têm em frente à porta (expositores, cabides com roupa, cestos, etc) e a arrumar as bancadas de atendimento, para encerrar à hora estipulada. Às vezes, parece um passe de mágica, de um grande desassossego para o silêncio total. Da mesma forma, que já entrámos às 16h30 em certos locais para tomar chá e mostraram pouca vontade em servir porque iam fechar às 17 horas (talvez se deva ao facto de recearem que possamos fazer sala, ou seja, demorar - os holandeses, pelo que observo, tomam o seu lanche de forma muito relaxada, embora mais cedo que nós). Já chegámos a ser apressados para nos despacharmos 10 minutos antes da hora do fecho, quando o meu chá até já ia no final (nem me soube de proveito...).
Desta vez, em Portugal, aconteceu uma situação semelhante, mas já não me senti "posta na rua". Passo a explicar... Para variar, o avião partiu com 45 minutos de atraso e aterrou uns 20 minutos mais tarde que o previsto. Depois, entre esperar para sair, percorrer a parte nova do aeroporto, ir ao wc, levantar as malas, tomar um cafezinho e apanhar um táxi eram umas 15h45 quando saí em direcção ao Hotel-Residencial onde fiquei alojada nos primeiros dois dias. Entre chegar, fazer o check-in, ter dois dedos de conversa com o sr. da recepção, que me reconheceu e quis saber como estava, subir ao quarto, refrescar-me, retirar coisas da mala e arrumá-las, eram 17h20, quando saí para ir lanchar à cafetaria do Museu Gulbenkian. Quando cheguei, fiz o meu pedido (uma fatia do meu pudim flã favorito e um chá de menta) e, na caixa, fui informada, simpaticamente, que fechavam daí a 15 minutos. Mas depois, em nenhum momento, fui incomodada, apressada ou "corrida". Tinha sido atendida, avisada com um sorriso, e deixaram-me estar à-vontade a saborear o meu pudim e o meu chá. Aqueles 15 minutos souberam-me muito bem. Senti-me calma, tranquila, a sorrir, satisfeita. Neste aspecto, dei comigo a pensar que bom é chegar e estar em Portugal!

3. Tomar chá à hora do chá, a um Domingo.

Sempre gostei muito de ir a casas de chá e, quando vivia em Portugal, ia com frequência, sobretudo, ao fim-de-semana. A hora do lanche, para mim, sempre foi depois das 17h/17h30, mas desde que vivemos nos Países Baixos, que deixámos de ter essa possibilidade (de gozá-la fora de casa) e sinto-lhe muito a falta.
É muito difícil, de acordo com a minha experiência, aqui na zona, encontrar uma sala de chá ou um local onde se possa lanchar a partir das 17h. Às 17h30, já os restaurantes começam a encher para o jantar e, só há poucos anos, começámos a ter comércio aberto todos os Domingos, sendo que encerra tudo às 17h. Por isso, foi com muito prazer que, em Portugal, gozámos da liberdade de descansar à tarde, sabendo que depois das 17h, iríamos encontrar sítios com fartura onde lanchar e bem. E foi tão bom!

4. Quando fazemos exames médicos em Portugal, ficamos com "as provas do crime".

Nos Países Baixos, sempre que fiz ecografias, mamografias, radiografias, análises e citologias, nunca me foram dadas as películas, os cd's com as imagens, relatórios ou registos escritos dos mesmos. Os resultados vão todos directamente para os médicos. Compreendo o lado prático da questão, mas, como paciente, prefiro ter esses registos comigo porque, facilmente, vou onde quero com esses exames (no caso de querer uma segunda opinião ou querer mostrá-los a um médico em Portugal). Acho que ficamos mais defendidos com os registos nas nossas mãos. Prefiro, por isso, como se faz em Portugal, onde nos dão as películas, os cd's e um relatório devidamente assinado, sem necessidade de pedir por isso e pagar mais alguma coisa. Sinto-me bem mais protegida, tendo acesso directo aos dados e sabendo quem é o responsável pela análise dos mesmos. Depois, há a questão dos custos. Este ano, por exemplo, paguei pela minha consulta de ginecologia do ano passado, com ecografia (sem entrega de películas, cd ou relatório), €290!! Senti-me "roubada". Uma vez que esta despesa caiu na franquia anual do seguro (um pouco acima dos 300€), tive de pagá-la na totalidade. Visto isto, decidi passar a ser seguida em Lisboa, onde, com €110, faço uma ecografia com uma das melhores ecografistas do país, equipamento de última geração e ainda recebo as películas e o relatório. Uma vez que, em épocas baixas, conseguimos preços de avião bem atractivos (tenho pago à volta dos €130), compensa-me bastante: vejo aqueles que me são queridos, apanho sol, como bem e barato (quando comparado com a minha presente realidade), venho com a saúdinha tratada e dou o meu contributo para a economia da Pátria.
;-)

5. Voltei a ser mulher! ;-) Há muitas lojas giras de bijuteria e joalharia. 

Mesmo que não se possa comprar, sempre dá para regalar as vistas.
Noto que têm surgido lojas muito interessantes nesta área, com peças muito bonitas e criativas. Uma delas, e que gostei muito, foi a da Ana Silva, a Design for you, na Avenida de Roma. Ainda fiz lá umas comprinhas. É raro comprar alguma bijuteria para mim, durante o ano, cá. Por isso, gosto de aproveitar quando vou a Lisboa, onde encontro mais variedade e criatividade. Nos Países Baixos, as lojas parecem-me sempre as mesmas (ou sou eu que não sei onde ficam as mais interessantes), acho tudo muito banal e as mulheres parecem andar todas de igual (um tédio!). Também fiquei muito feliz por saber que a Fábrica dos Chapéus tem agora uma loja em Bruxelas. Mais uma empresa portuguesa a internacionalizar-se. Bem bom!

6. Voltei a ser uma senhora! ;-))

Nos restaurantes, fui SEMPRE servida em primeiro lugar (ou seja, antes do cavalheiro acompanhante), do tasco mais simples ao restaurante mais fino. SEMPRE!


22 comments:

Margarida Elias said...

As coisas em que reparas! :-) O que me faz mais confusão quando saio de Portugal é não encontrar cafés e pastelarias como aqui. Contudo, também já me aconteceu esse sobressalto apenas por sair de Lisboa ou de uma cidade maior. Por outro lado, nas nossas pastelarias há sempre maior variedade de bolos. Noutros países (e mesmo em terras portuguesas) vejo menos variedade e geralmente uns bolos gigantes que eu fico cheia só de ver. Beijinhos!

Presépio no Canal said...

Bolos gigantes também não aprecio. É como dizes - ficamos cheias só de ver. E bolos só com creme também não. Tornam-se enjoativos. Gosto da grande variedade de pastelaria que se respira em Portugal. Confesso que, desta vez, abusei um bocado dos pastéis de nata...
Beijinhos!

Os olhares da Gracinha! said...

é interessante como descreve as suas sensações e emoções! Imagino que seja bem elegante e sempre com um olhar perspicaz!
Bj amigo

Presépio no Canal said...

:-)) Graça, preciso de emagrecer muitos kilos ainda. :-)) Sim, acho que sou elegante no sentido em que sou simples ;-) não uso saltos muito altos, uso roupas práticas (adoro calças de ganga), maquilhagem sempre discreta e sobretudo, prefiro apontamentos mais criativos, como por exemplo, algumas das suas peças, que são bem giras e diferentes. ;-)
Bj amigo!

Sami said...

Tambem aqui em Perth nos dizem que estao para fechar em breve. Ainda me lembro do nao servirem um cafe ao meu marido porque faltavam 15min para fechar e ja tinham limpo a maquina (empregadas). Mais acima noutro cafe, conseguiu beber um (claro, era o dono a frente do balcao).
Aqui tambem nao temos pastelaria fina como em Portugal, seria um bom negocio para ca!

APS said...

O seu poste, Sandra, dava pano para mangas, em comentários mas prometo ser conciso e abordar, apenas um assunto. Previamente, terei que dzer, como o povo: "Cá e lá, más fadas há."
Carnaval. A sua associação é extremamente pertinente: porque os católicos têm folgança, uma vez que, depois, mediante confissão e comunhão, todos os pecados lhes serão perdoados (vide: Colónia e Brasil,por exemplo).
Mas hoje, em Portugal, também se carnavaliza, intensamente, na Escola - um contrasenso aberrante, quanto a mim. Porque se estabeleceu, estupidamente, que as escolas são uma espécie de "sempre em festa", e aprender é o menos importante.
Desejo-lhe uma boa tarde!

Presépio no Canal said...

Sami, é tão chato, não é? Uma pessoa sente-se mesmo desconfortável. É que nem dá vontade de lá voltar...

Presépio no Canal said...

APS, então, agora fiquei curiosa pelos restantes assuntos...:-))

APS said...

Então aí vai uma picardia:
os doces, ou bolos, que são um "must" constante, nos blogues femininos, tanto cá, como lá fora.
E eu até sou guloso..:-))
Boa noite!

Presépio no Canal said...

:-))
O APS sabe que eu tenho ascendente em Gémeos. Agora, imagine lidar com esta monotonia gastronómica todos os dias... :-)) A minha vida é negra, neste campo..:-))
Os almoços, nos restaurantes, por exemplo...Andamos ali entre as batatas fritas, as fatias de pão, os croquetes, as omeletes; com sorte, um entrecosto ou uma salada de queijo de cabra e pouco mais há... Um tédio...
Uma pessoa chega a Portugal, vai do 8 ao 80...
É uma explosão de sabores, de cores, de alternativas...E pouco tempo... :-)

APS said...

Está perdoada e justificada..:-))
Boa noite

Love Adventure Happiness said...

É de facto tudo tão diferente aqui na Holanda... E nota-se bem as diferenças, sempre que lá vou noto imenso!
Ai estou quase de ferias :D

Presépio no Canal said...

Bom dia, APS! :-))

Presépio no Canal said...

Vera,
Porque não escreveres um post sobre as diferenças que notas? ;-)
É giro conhecer no que cada pessoa repara/aquilo que mais lhe toca/trocarmos experiências/ficarmos
a conhecer a perspectiva uns dos outros...;-)
Seria um post que iria ler com muito interesse. Se calhar, por exemplo, já reparaste em coisas que me passaram ao lado e para as quais vou, depois de te ler, ficar mais atenta...Fica o desafio. ;-)
Bjinho!
Boas férias!! :-)

Love Adventure Happiness said...

Nuna fiz uma compilação mas entre as tags "Holanda vs Portugal" e "factos que descobri em Amesterdão" podes ter umas ideias... mas se calhar aceito o desafio faço um resumo e acrescento uns quantos ;)

Presépio no Canal said...

Obrigada, Vera. Irei ver. Fiquei curiosa. ;-) E o facto de viveres numa região diferente da minha torna o assunto ainda mais interessante.

ana said...

Sandra,
Achei graça a esta postagem.

Também gosto muito de casas de chá, de cafés ou de espaços solitários no encontro com uma chávena de chá ou de café.
O choque cultural Norte/Sul é um assunto que me interessa.

Ando a ler um livro em que a história se passa em Amesterdão no séc. XVII, "O Miniaturista"; estou a gostar muito.
Beijinho.:))

Presépio no Canal said...

Ana,

A História das Mentalidades e a História do Quotidiano são áreas que me interessam muito. Gosto de compreender as raízes históricas dos comportamentos. E é interessante verificar como o Calvinismo se nota na forma de estar dos Holandeses (seja na disciplina dos horários das refeições e do comércio, na frugalidade no vestir, e até na formação de alguns partidos políticos, etc).
Boas leituras!
Beijinhos!

MR said...

Uma amiga minha que vive fora, quando chega a Lisboa costuma dizer: «Cá venho eu do congelador para o microondas!»

Presépio no Canal said...

Olá, MR!
Compreendo muito bem a sua amiga...
:-))

GL said...

Olá, Sandra!

Reconforta lê-la. Nós, os que estamos sempre por cá, por vezes não nos apercebemos dessas pequenas coisas que refere, para já não falar do que respeita à saúde, essa da maior importância.
É bom ver a realidade que é o país - nalguns aspectos - através dos olhos de alguém que vive outra bem diferente.
Nem um chá se pode tomar sem stress? Que mau, isso!:(
Beijinhos, Sandra.

PS.Gostei muito de a conhecer no evento do nosso Amigo João Menéres:))

Presépio no Canal said...

Olá, GL! :-))

Nestas bandas, até pode tomar o seu chá, mas às 17, já fica mais complicado...:-)) É mais à nossa hora do café, tipo 3 da tarde...:-)))

Muitos beijinhos, para si, GL!