Monday 28 August 2017

Gaivotas, Mar, Cães, Tabouleh e Dickens


O sol da manhã, que já ia alto, sussurrava "praia" ao meu ouvido. E eu, que gosto de sussurros, escutei com muita atenção. Foi assim, que, no sábado, logo após o almoço, rumámos à nossa praia holandesa de sempre, Katwijk aan Zee. A areia fina que me lembra ampulhetas, as dunas que nos protegem num abraço, o sossego maior daquele recanto de praia em frente ao restaurante Het Wantveld (se clicarem neste link, podem ver algumas imagens panorâmicas), onde, assim que chego, páro sempre para o espresso, o sumo de laranja natural e o típico croquete de carne holandês. Gosto destes hábitos "de sempre". Sou muito felina nos meus rituais e nos meus amores. Sei onde são as minhas casas e os meus recantos. 

Um dos aspectos que mais aprecio, ao chegar ao Het Wantveld, é o cuidado com os animais. Há sempre taças com água para os cães. Na renovada "ladeira", a caminho da praia, contei mais de uma dúzia de canídeos. Há muitas pessoas com cães por aqui (às vezes, até mais que um), e muitos restaurantes preparados para receber os fiéis amigos. 

Já na praia, estendidos nas nossas toalhas (a minha rosa, a dele azul), gosto do cirandar das gaivotas ao nosso redor e dos vôos rasantes com que nos brindam, aqui e ali. Desta vez, fizeram-me uma surpresa no mar. Ao caminhar pelo ritmo quieto do dia daquelas águas do Mar do Norte,  vi, um pouco mais adiante, duas gaivotas sentadas naquela planície líquida, uma à minha esquerda, outra à minha direita. Fizeram-me sentir uma princesa, à medida que me aproximava. Parecia que o Universo (ou Deus) me dava as boas vindas naquele regresso ao Mar, que, até há bem pouco tempo, durante este Verão, me esteve vedado. Acabei ladeada por elas. Não, não partiram à minha chegada. Muito pelo contrário, quedaram-se por ali. E pareceu-me, que a sorrir.

Ontem, já não fui à água. Fiquei-me pelo areal, a sentir o sol na minha pele e a ler o "Passaporte", desta vez o capítulo sobre as visitas à Inglaterra literária, o mesmo será dizer, à casa de alguns escritores britânicos, como por exemplo, a de Charles Dickens, que gostaria muito, um dia destes, de conhecer.

E se, ontem, no final da tarde, o regresso foi directo a casa, no sábado, ainda parámos em Amesterdão e fomos jantar ao nosso restaurante de sempre. Falo do Bazar, uma antiga sinagoga convertida em restaurante islâmico. Gostamos muito do Bizar Bazar de carne, com ensopado de borrego e tabouleh (uma salada libanesa). E mais uma vez, ali também, havia taças com água para os cães.


Votos de boa semana para todos!


"A visita à casa dos nossos escritores preferidos constitui uma maneira original de se passar férias. Depois de termos lido as obras, todas as suas obras, a deambulação tem qualquer coisa de mágico. É doce olhar a caneta com que ele escreveu, ver a cadeira onde se sentou, observar o que se vislumbra da janela do seu escritório. Escolhi para meu primeiro passeio, a casa de Charles Dickens, em Londres."

Maria Filomena Mónica, in Passaporte, 2009, página 149



15 comments:

bea said...

Não imagino o quão fria está a água do Mar do Norte. Mas a praia não é só banhos (o que mais me importa). É também a liberdade que ali se respira, o som marítimo de que se tem saudade, o agrado da areia sob os pés. E, no seu caso, o restaurante com o de hábito.

A casa de Dickens lembrou-me que este FDS vi o filme "As irmãs Brontë". Gostei. Por ser inglês de gema e por me parecer fiel aos modelos originais - elas não eram bonitas, eram raparigas vulgares, cada uma com seu carácter próprio e todas com o génio e o amor da escrita; escreviam as três debruçadas sobre a mesa; pareceria que estariam a fazer a lista de compras, mas depois saiu Jane Eyre, Monte dos Vendavais e outros livros do género. Eram um portento de inteligência e trabalho, aquelas meninas. Tanto escreveram e pouco saíram de sua casa. Vale que a espécie humana é em qualquer lugar muito igual a si própria.
Boa semana

Presépio no Canal said...

Bea,

O que mais gosto em Katwijk são as dunas e o areal. E o sossego do lado onde ficamos. Já temos visitado outras praias, mas é esta que gostamos mais e acabamos por voltar sempre.
O livro que mencionei no post fala sobre a casa delas. :-)
Boa semana!

Os olhares da Gracinha! said...

E eu no sul...com água tépida!
Obrigada pela visita ... Bj

Presépio no Canal said...

Graça,

Aproveite ao máximo as suas férias! :-)
A água, neste fim-de-semana, estava com uma temperatura que me soube bem, mas no fim-de-semana anterior, estava gélida e não consegui entrar.

Bj!

João Menéres said...

É com enorme satisfação que leio sempre as tuas crónicas, Sandra !
Já o disse mais do que uma vez : Devias dedicar-te a escrever sobre locais e editar um livro !
A Holanda sentida por uma portuguesa.
Este é a sugestão para o título de um sucesso para um livro especial.

Um beijo amigo.

João Menéres said...

Quanto à Myra :
Sugiro que lhe envies um e-mail.
myralandau7@gmail.com
Ela está aí, sim.
Se preferires, fala no meu nome !

Um beijo muito amigo.

Margarida Elias said...

Bons passeios! Escreves muito bem :-) Beijinhos!

Presépio no Canal said...


João,

Muito obrigada pelo teu encorajamento. És muito querido! :-)
Gosto imenso de escrever e este blogue tem sido um bom treino.
Obrigada pelo email da Myra. Vou contactá-la em teu nome (pois nunca "falámos" uma com a outra na blogosfera, que me recorde). Vou dizer-lhe que trazemos uma visita do amigo João. ;-) Escrevo-te, depois, um mail a dizer como acordámos a visita.

Um grande beijinho.

Presépio no Canal said...


Margarida,

Muito obrigada! Vou tentando. E retribuo o elogio. :-))

Beijinho.

Agnes said...

Que óptimo dia! E a casa-museu que mostraste parece-me uma óptima ideia para uma próxima visita à capital inglesa ;) Beijinhos

Presépio no Canal said...

Agnes,

Quando fores, conta. Já sabes que adoro os teus posts! :-)
Quero voltar a Londres, mas só devo fazê-lo no próximo ano, parece-me.
Lembrei-me especialmente de ti quando li o capítulo sobre Oxford, deste livro da M.F.M.. :-) Acho que ias gostar.
Beijinhos! :-)

Agnes said...

Quando vieres, diz! :) Se voltar a Londres para um programa turístico vou ver se consigo incluir este museu, e depois direi tudo no blog, claro. Beijinhos

Presépio no Canal said...

Agnes,

Digo, sim. :-) E gostava muito de conhecer Oxford pelas tuas mãos.
Beijinhos.

MR said...

Uma bela crónica, como sempre. :)
Gosto muito de visitar casas de artistas. Já estive nesta e na de Portsmouth, onde Dickens nasceu.
Bom mês de setembro com passeios e belas descrições para nós viajarmos. :)

Presépio no Canal said...

MR,

Obrigada pelas palavras estimulantes! :-)
Não conheço nenhuma das casas. Se me vejo novamente a passear assim, ainda julgo que é mentira...
Beijinho!