Acordámos com sol, o que me deixou mais descansada porque, nesse dia, ia ver uma peça de teatro ao ar livre com a minha amiga B., que tinha dois bilhetes gratuitos e me convidou para ir com ela.
Foi um dia cheio, lembro-me bem.
A B. chegou às 14:30 em ponto, como combinado, tinha eu acabado de despachar-me. Fomos até ao centro da cidade deixar os filhos dela e o sobrinho (pré-adolescentes, à época) e seguimos para a zona da praia, onde se ia realizar a peça.
Era a primeira vez que ia assistir a uma peça de teatro em holandês e gostei bastante. Muito divertida e também muito criativa, sobretudo na cenografia. No final, fomos até ao bar e reparei que vendiam vinho tinto português de uma marca que eu nunca tinha ouvido falar. Mas ficámo-nos por uma
biiter lemon. Estava calor e eu só gosto de beber vinho tinto às refeições ou à noite. Depois, fomos buscar os gaiatos à cidade e a B. deixou-me em casa.
Uma fotografia da peça "Exit" pela companhia de teatro Vis à Vis (Almere)
Quando cheguei a casa, o meu marido tinha acabado de
retirar o lavatório do micro quarto-de-banho das visitas (que estava a dar problemas há algum tempo). Já não montámos o lavatório novo que tínhamos comprado nos saldos da
Praxis no fim-de-semana anterior, pois o meu marido optou por descansar um bocadinho. Mas por pouco tempo, porque era necessário ir ao supermercado comprar queijo, tostas, batatas fritas,
chips de milho, cervejas e vinho do Porto e ainda fazer a sopa. Enquanto isso, comecei a bulir: colocar roupa na máquina, arrumar a loiça, limpar e arrumar a cozinha, despejar todos os lixos da casa, limpar o pó às mesas, aspirar, regar as plantas, arrumar as casas-de-banho. Ainda preparei as mesas e fui estender mais uma máquina de roupa. Cansada e com o tempo abafado, optei por tomar o terceiro duche do dia. Só mais tarde reparei que não tínhamos comprado champanhe, quando o meu vizinho J., numa das minhas idas ao quintal, me perguntou pela bebida das bolhinhas para comemorar a vitória.
Soube muito bem quando finalmente me sentei. Só sei que bebi duas
Palms em dois tempos e ataquei, a precisar de
comfort food, os
chips de milho e os tremoços. Estes ainda vá, mas os
chips, as cervejas, o queijo e as tostas acusaram logo na balança no dia seguinte.
A fotografia da minha primeira cervejinha, estava o marido, desta vez, no duche.
O jogo foi de nervos: o Ronaldo lesionou-se, ainda tentou jogar e não conseguiu. Reparámos também que havia uma praga de traças ou lá o que era aquilo. No cômputo geral, fiquei impressionada com as defesas do Rui Patrício e o golo do Éder, que foi de canhão. Naquele momento, gritei de alegria e nem dei pela força do meu grito. Dois dias depois, quando o M. veio cá a casa buscar uma encomenda que os Correios tinham aqui deixado, contou, divertido, ao meu marido que ele e o seu amor se tinham deixado dormir a ver o jogo (estavam a vê-lo no quarto porque a TV da sala está avariada) e acordaram com o meu grito, apercebendo-se logo que Portugal tinha marcado e ganho o campeonato. O que vale é que eles já me conhecem, sabem que me entusiasmo com os jogos e não levam a mal. Óptimos vizinhos. Tanto assim, que nos enviaram os parabéns pela vitória ainda nessa noite.
Um dos aspectos desse dia que recordo com mais carinho foram
as mensagens escritas enviadas por amigos de várias nacionalidades.
O nosso amigo P., por exemplo, que estava a chegar nessa noite a Amsterdam, por motivos de trabalho, vindo da Polónia, enviou sms's com mensagens muito giras, tipo "Go Portugal!!" e "This evening we're all Portuguese!!". Achei-lhe imensa piada, pois ele é polaco. Mas como o próprio disse à época: "Prefiro dizer que perdemos para os Campeões da Europa.". Ele assistiu ao jogo no quarto de hotel e, de vez em quando, ia trocando mensagens com o meu marido, como no momento em que o Cristiano Ronaldo saiu do jogo em lágrimas. Dois dias depois, já no jantar para matar saudades, no restaurante
Bazar em Amsterdam, dizia-me ele que até se emocionou com a vitória de Portugal no Stade de France. Achei muita piada, pois não estava à espera de uma reacção tão sentida.
A B., por sua vez, enviava-me bandeirinhas e bolas de futebol através do
WhatsApp e até uma imagem do rosto dela com a bandeira portuguesa. Graças à B., tenho fotografias do jogo, inclusive do momento em que o Cristiano Ronaldo segurou a taça. Quando lhe respondi, momentos depois, a agradecer, disse-lhe que estava a celebrar com Vinho do Porto e ela envia-me a fotografia da lata da
Heineken com que estava a celebrar também junto do marido. Ri-me.
Os nossos amigos S. e G., que são indianos, estavam a ver o jogo no Reino Unido, onde moram, e enviaram-nos igualmente os parabéns pela vitória. Muito giro todo este acompanhamento à distância!
Gosto muito desta fotografia que a B. me enviou, à época, por telemóvel.
Enfim...Foi um jogo que ficou associado ao dia em que vi pela primeira vez, uma peça de teatro em holandês, à retirada do antigo lavatório do micro quarto-de-banho das visitas, à falta de uma garrafa de champanhe, ao grito que acordou os vizinhos e ao acompanhamento de amigos de diversas nacionalidades a torcer por Portugal, via
WhatsApp .
Mas foi também
o dia anterior ao acidente de carro do meu marido (Graças a Deus, ninguém se feriu e os carros só sofreram ligeiras amolgadelas) e a
antevéspera do incidente do autocarro em que eu vinha, no final da tarde, de regresso a casa. Que nervos! Uma briga entre duas mulheres, com agressões físicas incluídas, sem qualquer respeito por elas e pelos outros, sobretudo pelas crianças presentes e o motorista, que se viu obrigado a chamar a polícia. E vieram alguns 4 ou 5 carros das forças de segurança para recolherem depoimentos do incidente. "Tirem-me deste filme", pensei, pois tinha de me despachar para ir até Amsterdam - íamos jantar com o nosso amigo P. e eu trazia nas mãos umas lembranças que tinha acabado de comprar para a M, a mulher dele, e os filhos de ambos.
Fotografia tirada na Museumplein, com telemóvel, durante o passeio com o P., após o nosso jantar no Bazar.
Porém, este aborrecimento evaporou-se pouco tempo depois, quando, ao chegar a casa, li das condecorações com a
Ordem de Mérito dos nossos 5 medalhados nas provas Europeias de Atletismo em Amsterdam e cujo último dia coincidiu com o da final do Campeonato Europeu de Futebol. Fiquei tão contente! Muito justo, sim senhor. Diz que tudo está bem, quando acaba bem. Talvez, por isso, me lembre nitidamente do
lindíssimo arco-íris da manhã de 14 de Julho, 4 dias depois de termos ganho a final do Europeu - um arco-íris perfeito, de volta bem desenhada (mas que a câmara só apanhou parte), num corolário simbólico das vitórias desportivas daquela semana inesquecível."