Às vezes, o mundo da blogosfera traz à nossa vida pessoas que de outra forma não conheceríamos - pessoas com quem, vamos, devagar, descobrindo afinidades e interesses em comum. E quando a caixa dos comentários parece já não chegar, passamos ao mail, onde podemos ter conversas mais longas e mais pessoais. Pelo meio da digitação e entre as letras do teclado, vamos vivendo escuta e empatia, generosidades e afecto. Mais tarde, chegam aqueles momentos em que as palavras parecem também não serem suficientes e queremos fazer parte da vida do outro de uma forma mais física, mais material. Nesse "estádio", damos por nós a lembrar-nos dessa pessoa, dos seus gostos e preferências, e vá de enviamos marcadores e oferecemos livros "para a troca", como quem volta a ser miúdo e a trocar cromos à hora do recreio. E tão bom que é! Enquanto o chá ou o lanche ainda não tiveram oportunidade de acontecer...
Outras vezes, a blogosfera também nos faz conhecer pessoas que, embora sem o mesmo grau de partilha, afinidades ou interesses em comum como os acima descritos, partilham a mesma nacionalidade ou um problema similar de vida. Diria que esta situação talvez seja mais comum entre emigrantes ou expatriados. Devo dizer que, por norma, o factor "nacionalidade" não me faz querer conhecer uma pessoa. Mais importante para mim são as afinidades que partilhamos. O resto é geografia. Assim como as idades dos envolvidos. Não me aquece, nem me arrefece. Volto a dizer, as afinidades ou o desejo de trocar experiências no que a um mesmo assunto diz respeito são o mais importante para mim.
Há também outro factor a ter em conta quando nos encontramos com pessoas que "só" conhecemos da blogosfera. O facto de já sermos adultos e termos as nossas personalidades mais ou menos estruturadas. No meu caso, aos 46 anos, já sei bem o que gosto ou não, comportamentos e atitudes para os quais já não tenho paciência, e sobretudo a noção que não quero e não posso perder tempo (afinal, metade da minha vida já lá vai). E compreendo perfeitamente, que algumas idiossincracias minhas não sejam do agrado de alguns. Mais, aceito e respeito.
Querem saber um pouco mais sobre as minhas "bizantinices"? Eis o que vos espera, quando nos conhecemos pessoalmente. ;-)
Have fun!!
1. Eu não gosto que fumem ao pé de mim em espaços fechados (a sala de uma casa, por ex), sejam cigarros ou drogas leves. Desde que deixei de fumar Marlboro (os meus ex-cigarros favoritos) há 14 anos (tinha 32), que não suporto o cheiro a tabaco. E acho uma falta de educação, fumarem para cima de mim, se estiver a comer naquele momento. Aprecio a gentileza do gesto de quem pede licença para fumar. Se já estivermos na rua (quintal, esplanada), não me importo de dizer que sim, que pode fumar. Quanto a drogas leves, não suporto o cheiro de todo. Por isso, já sabem, escusam de me convidar para churrascos ou afins onde isso possa acontecer, que eu não levo nada mal e até agradeço a atenção.
2. Dou-me mal com "obrigatoriedades" de visitas ou experiências quando vamos a um local. O meu ascendente é Gémeos, deve ser por isso. Não acho que seja obrigatório ir a uma coffee shop quando se vem a Amesterdão, ou ver o Papa quando se vai a Roma. Quando fui ao Vaticano, há 20 anos, não vi o Papa; vi-o, sim, no ano seguinte, pelas Jornadas Mundiais da Juventude, no Campo de Marte, em Paris. Eu vejo o que me apetece, de acordo com a minha esfera de interesses, e ao ritmo que achar conveniente, na altura. Se estou de férias, quero estar à-vontade, sem obrigatoriedades disto e daquilo. Não imponho os meus gostos e desgostos a ninguém e gosto que respeitem os meus. Por isso, nada tenho contra a momentos em que os programas ocorram em separado (amigo não empata amigo). Coffee shops não são a minha praia e não estão na minha esfera de interesses, ponto.
3. Não sigo "modas" e não gosto da palavra "trendy". Eu só adopto algo, se gostar. Só porque é moda, não. Como diria Yves Saint-Laurent: " As modas passam, mas o estilo é eterno". Modas que eu não sigo (mas quem quiser que o faça): não uso tatuagens nem piercings, calças rasgadas ou um pouco acima dos tornozelos no Inverno (deixando aqueles a descoberto, a "rapar" frio), saltos desproporcionados à minha altura, brilhantes durante o dia, maquilhagem pesada, folhos quando estou mais gorda, whatever. Eu só visto o que gosto. Da mesma forma, que posso vestir ou calçar marcas ou não. A minha preocupação centra-se mais nos materiais. O algodão e o linho estão no topo da minha lista, por exemplo.
4. Não gosto do uso indiscriminado de palavrões. Tudo o que é demais enjoa. Gosto de usar palavrões com muita parcimónia. Até para que se perceba que fiquei deveras irritada. Os palavrões, para mim, devem ser como as trovoadas. De vez em quando, para se notarem bem, na sua força. A banalização estraga o efeito.
5. Há perguntas que não faço e que me irritam quando as ouço. Aqui vai uma pequena lista:
" Quando é que arranjas um namorado?" (penso sempre que tacto e sensibilidade não moram por ali, no perguntador intrometido)
" Quando é que te casas?" (nem todos querem ou podem).
" Quando é que tens filhos?" ( idem)
" Quando é que mandas vir o segundo (filho)?" ( haja mesmo paciência para tanta intromissão).
Ou perguntas sobre a família (não sabemos se as pessoas se dão bem entre si e se estamos a tocar em assuntos sensíveis para o nosso interlocutor). Daí que nunca pergunte aos meus fellow expats, especialmente se acabei de conhecê-los:
" A tua família vem cá no Natal?"
" Vocês costumam ir lá?"
" Tens irmãos, papagaios e periquitos?"
Prefiro que seja a pessoa a tomar a iniciativa de falar sobre esses assuntos. Não estou a dizer que estas perguntas sejam feitas com maldade, mas a experiência tem-me ensinado que é melhor ficar calada e deixar que o outro fale de si como entender e à medida da sua vontade e do seu grau de conforto. Volto a dizer: às vezes, sem querer, estamos a tocar em assuntos muito sensíveis...Por outro lado, não gosto de perguntas em barda, sobretudo, quando acabámos de conhecer a outra pessoa. Calma, que Roma e Pavia não se fizeram num dia. Prefiro que os assuntos surjam naturalmente, a propósito. Às vezes, parece que se perdeu a arte de conversar...
6. Estou-me absolutamente nas tintas se o marido da "X" decidiu tornar-se dono-de-casa, ou a própria "X", com ou sem filhos. Ou se mudaram radicalmente de profissão e de estilo de vida. Desde que sejam felizes nas suas escolhas e levem uma vida honesta, sem prejudicar ninguém, por mim, siga a marinha. Quem vive no convento, é que sabe o que lá vai dentro. E a vida alheia não me diz respeito. Tomara eu conseguir dar conta da minha (e às vezes, vejo-me grega), quanto mais da vida dos outros.Tenho mais que fazer, pelo amor da Santa...
7. Aborrece-me sobremaneira o uso indiscriminado de telemóveis, câmaras fotográficas e outras maquinetas. Há tempo para tudo. Gosto, quando vou encontrar-me com uma pessoa, que estejamos concentrados em nós e nas nossas conversas. Compreendo perfeitamente que o telemóvel esteja ligado, quando há filhos, familiares no hospital, ou nos encontramos à espera de chamadas urgentes ou importantes, etc, mas não gosto quando a pessoa se põe a falar ao telemóvel tempos infinitos e se esquece de quem que está à sua frente (dá vontade de terminar o jantar e oferecer-lhe um pacotinho de chá, if you know what I mean). Também compreendo que se queira fotografar um local novo ou um prato que nunca se provou, mas já não gosto quando se fotografa tudo o que mexe, quebrando o fio à conversa, a intimidade, o momento. Ultimamente, também observo muitas pessoas a andar na rua, com um stick na mão, enquanto se filmam. De acordo, façam lá isso, mas não enquanto passeiam comigo (até porque não gosto de ser filmada ou fotografada). Nesses momentos, prefiro que estejamos mais concentrados nas nossas conversas. E até não me importo de parar de quando em vez, para filmar algo específico, mas passar o tempo todo nisso não é para mim.
8. Também não me chamem para longas filas. É que não me apetece nada trabalhar para as varizes. Ainda no outro dia, fomos ao Hermitage para ver a exposição sobre Os Romanov. Fiz meia-volta, volver, quando vimos a fila. E rumámos ao Museu Van Loon e fizemos muito bem. Ainda não subi ao Arco do Triunfo em Paris por causa das longas filas que encontrei das vezes que lá fui.
9. Quando vou a Portugal, cansa-me ouvir de forma constante as expressões "os meninos" e "as meninas" ditas pelos pais quando se referem aos filhos. Tenho saudades de ouvir dizer "os meus filhos" ou "as minhas filhas" e de ouvir os nomes das respectivas crianças. E dos avós, tenho saudades de escutar "os meus netos"/"as minhas netas" e dos tios, "os meus sobrinhos/ "as minhas sobrinhas". Às vezes, parece que os miúdos deixaram de ter família e relações de parentesco. E cansa-me também que os colegas de escola ou das actividades extra-curriculares, dos clubes, etc, sejam referidos como "os outros meninos". Acho uma expressão tão vaga. Quem são "os outros meninos"? Colegas, amigos? Não terão nomes estas crianças? Se forem dois amigos chegados, presumo que se saibam os nomes... E sinto falta do uso de palavras sinónimas, numa língua tão rica como a nossa: as crianças, os petizes, os putos, os pequenos, os miúdos, os gaiatos,...
10. E por falar em petizes, sinto que já não tenho paciência e energia para ir a festas com muitas crianças em espaços fechados. Já se um casal amigo com filhos nos convidar para um passeio no parque, onde possamos correr e brincar, gosto muito. Eu sou uma pessoa de ar livre e esfoladelas nos joelhos, lábios lambuzados de amoras, que gosta de rolar pelas encostas dos parques e andar de pés descalços na areia da praia.
Bom fim-de-semana! E bom Carnaval! Have fun!