As pessoas foram, sem dúvida, o melhor das férias. Admirei-lhes o saber viver, apesar da pobreza da ilha. Os cabo-verdianos que conheci transmitiram-me uma serenidade e alegria de viver que não encontro em pessoas minhas conhecidas, que vivem em condições muito boas (financeiras, com apoio familiar e sem problemas maiores de saúde). Realmente, é preciso sabedoria para saber valorizar o essencial. Todos com quem falei na ilha (sobretudo, em Santa Maria) me pareceram muito conscientes dos problemas do país (a falta de infraestruturas, os salários baixos, o turismo sexual, etc), mas ninguém se prestou a lamúrias e não se tomou mais tempo de conversa sobre esses assuntos que o estritamente necessário - muito dignos na forma de lidar com os problemas. Alegres, amistosos. Não senti inveja, nem deslumbramentos parvos. Senti sim, uma grande valorização da família e da amizade.
Na foto acima, o Paco, que conhecemos na nossa primeira ida a Santa Maria.
Ele abordou-nos na rua onde o autocarro do hotel nos tinha deixado para irmos à praia. O intuito inicial era levar-nos a conhecer a sua loja de artesanato que fica numa rua um pouco atrás. A empatia com o Paco foi imediata e, muito naturalmente, fomos caminhando juntos, até à loja. Lá, comprei-lhe uma Santa Maria e um colar. E, enquanto conversávamos, aprendi muito sobre cultura cabo-verdiana. No fim, o rio das palavras transformou-se num convite para almoçarmos juntos ainda nessa tarde.
À hora combinada, esperava-nos um amigo dele (na foto abaixo), muito simpático. O Paco tinha ido buscar o almoço...
Na foto seguinte, o nosso manjar dos deuses: um arroz de galinha do campo de comer e chorar por mais. Para nós, foi o ponto alto da estadia em Cabo Verde: a comida foi colocada num banco de correr, os talheres distribuídos e começámos todos a almoçar a partir da travessa. Aí, conquistaram-me por completo. Adorei aquela simplicidade, aquela descontracção, o espírito genuíno do momento. E aproveitei o mais possível a beleza da preciosidade daqueles instantes.
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No final da refeição, mais um presente: pulseiras de búzios, o primeiro dinheiro de Cabo Verde, como nos contou.
Momentos muito bonitos, estes - ali estava o Paco a passar tempo connosco que lhe era precioso para trazer clientes à loja. Tudo porque sim, porque gostou de nós e não queria deixar isso passar em "brancas nuvens".
Nunca esquecerei o brilho dos seus olhos, o entusiasmo das suas palavras. É quando encontro gente assim, que sinto que vale a pena estar viva. São eles que nos dão significado. O resto é o resto.
Estas são algumas peças da loja do Paco. Tudo artesanal. As tartarugas, símbolo de Cabo Verde e, atrás, as Santas Marias.
(texto reeditado a 11.12.2014)