Thursday 25 July 2013

Da importância de arriscar quando somos expats/emigrantes


Os dias têm sido quentes e o corpo tem andado a pedir uns miminhos. Ontem, tirei um dia só para mim e fui ao higienista oral, às compras para as férias, à cabeleireira, e à esteticista fazer manicure, pedicure e arranjar as sobrancelhas. No final do dia, senti-me muito melhor, mais limpa e arranjada. 

Costumo dizer a quem emigra, sobretudo sozinho ou como expat wife, para não ter medo e sair, experienciar, conviver. Ao fim de um tempo, as pessoas já nos conhecem e tratam pelo nome próprio. Nesses momentos, sentimos que passámos a existir, e aos poucos, segue-se outra grande conquista, o passar a pertencer. É como voltar a nascer outra vez, mas numa outra família, num outro espaço e com toda uma história para escrever de novo. Ganhar esse reconhecimento, esse espaço, essa identidade é de uma alegria e sentido de realização sem paralelo para um expatriado. 

Os momentos em que arriscamos a conhecer o Outro - e aqui completamente sem rede, como foi o meu caso, isto é, sem conhecer ninguém previamente, a língua ou o espaço - pode ser assustador, mas ao mesmo tempo libertador e, de certa forma, e muitas vezes, mágico. Os nossos sentidos passam a estar muito despertos - somos bébés, novamente - e começamos a reparar em tudo para saber como agir e o que dizer.

É desse encontro de culturas permanente que é o meu dia-a-dia que vos quero falar nos próximos posts: o que se passa quando vivemos situações aparentemente muito simples, como ir à clínica dentária, à manicure ou ao cabeleireiro. Estas semanas foram especialmente ricas em pequenas histórias/notas - algumas das quais já partilhei aqui -, mas ontem, achei o dia particularmente interessante e curioso, sobretudo por causa da minha ida à esteticista.


4 comments:

ana said...

Sandra,
Que partilha deliciosa. Sim, deve ser óptimo quando sentimos que nos integram.
Ser bebé e começar a aprender de novo pode ser libertador.
Achei graça à forma como falaste de momentos prosaicos e do quotidiano. Pois, temos que nos arranjar e isso implica perdermos tempo com utilidades menos importantes.
Gostei tanto de ler mas não estou a conseguir verbalizar.
Tenho um grande orgulho de ti, dou-te muito mas muito valor. És uma mulher de armas.
Agora, para estares mais feliz no lugar que adoptaste só falta ter um gatinho.:)
Beijinho especial. :))

Presépio no Canal said...

Ana, cuidar de nós é sempre muito importante. Não gosto de descurar. É saudável manter o arranjo, o aprumo, o brio, sobretudo num país tão frio e cinzento como NL.
Quanto a faltar-me um gatinho para ser mais feliz... Por acaso, não sinto isso. O Fofinho é uma doce recordação e agora é outro tempo, para outras vivências (o último ano, como sabes, pelo que partilhei aqui, foi muito exigente com os cuidados que ele requeria).
Obrigada, mais uma vez, pela simpatia das tuas palavras. :-)
Beijinho!

Margarida Elias said...

Muito interessante, Sandra. Toda a gente precisa de mimos e, por vezes, de recomeçar noutras paragens. De qualquer modo, é um recomeçar que não é do zero, o que também é bom - passaste a ter duas casas - uma na Holanda, outra em Portugal. Bjns!

Presépio no Canal said...

Interessante o teu comentário, Margarida, porque dá pano para mangas e acho que vou aproveitar a deixa ;-)

Eu não sinto exactamente que tenha duas casas, por vários motivos, que se devem a certas particularidades nossas:

- nós não temos casa, enquanto espaço físico, em Portugal, e a da minha mãe é arrendada (ou seja, não irei herdá-la no futuro); quando vamos passar férias, vamos sempre para um hotel, a não ser quando vou sozinha; e também não estamos a pensar em comprar casa lá (talvez na velhice, se lá chegarmos e se vendermos esta casa). Ou seja, de momento, não temos uma casa, enquanto espaço físico, para voltarmos.

- a nivel emocional: tenho amor a um Portugal que reconheço cada vez menos e que sinto que já não é a minha casa, mas que o foi um dia; é como um primeiro amor que não se esquece, que vive das memórias e das recordações; ou então, é como sentir uma paixão, mas que as circunstâncias da nossa vida já não nos permite viver como gostaríamos;

- e há a questão da mentalidade, com a qual não me identifico, não me revejo e que me faz sentir afastada cada vez mais;

- sem contar que há uma história aí que continua, mas da qual eu já não faço parte e daí que quando chego a Portugal, tenha, às vezes, um choque cultural ao contrário;

- já sem falar que, com os velhotes a falecer e os mais novos a emigrar, muitas vezes, me pergunto: "No caso de voltar, vou voltar para quem?". A paisagem humana à qual estava afectivamente ligada está a deixar de existir muito rapidamente;

Não sei se me estou a fazer entender... Isto deve parecer uma grande confusão :-))Talvez seja necessário passar por isto, para se poder compreender um bocadinho melhor.

Quanto a começar do zero: começámos mesmo do zero. Nenhum de nós sabia como é que as coisas funcionavam aqui; nós não fomos para casa de pessoas amigas/conhecidas, fomos para um hotel, e isso custou um bocado.

No teu caso, por exemplo, já conheces mais da Holanda, do que eu, quando saí daí, devido ao acompanhamento que vais fazendo aqui, no Blogue. Mas eu só sabia um bocadinho sobre os pintores e a Dutch Golden Age, mais nada.

Pertinente o teu comentário. Fez-me reflectir um bocadinho mais. Obrigada. :-)
Beijinhos!