Wednesday 31 July 2013

Na Clínica Dentária

E no seguimento deste post...

A clínica dentária, onde costumo ir desde 2008, situa-se na rua onde morámos durante os nossos dois primeiros anos, em Almere. Éramos vizinhos, portanto. Embora, no nosso bairro actual - Tussen de Vaarten -, haja uma clínica dentária privada e dentista no centro de saúde, continuo a preferir apanhar o autocarro e ir até ao centro da cidade, sempre que preciso de ir ao dentista e à higienista oral. Em equipa que ganha, não se mexe e eu nunca tive uma equipa de Saúde Oral tão boa como nestes últimos anos. Quem é a equipa? O meu dentista é o Maarten, a minha higienista regular é a Angelique e, às vezes, o Stanley.

Tratamento pelo nome próprio

O facto que me chamou imediatamente a atenção, quando lá fui pela primeira vez, foi o tratamento pelo nome próprio entre todos eles, assistentes incluídas. Em cinco anos, nunca ouvi nenhum dos membros da equipa referir-se ao meu dentista, o Maarten, ou qualquer outro dentista que lá trabalha, por "Doutor", directa ou indirectamente. Esta não era a minha realidade anterior. Aos poucos ("old habits die hard"), habituei-me também a chamá-los pelo nome próprio (dentista e dono da clínica incluídos). 

Hoje, já nos conhecemos e sinto-me em casa. Quando lá chego, recebo um "Hi, Sandra!" e uma piscadela de olho da assistente, seguido de um "Hoe gaat het?" ("Como vai ?") acompanhado de um sorriso, a que se segue a pergunta de confirmação: " U hebt een afspraak met uw tandarts om 10 uur, toch?" ("Tem uma consulta com o seu dentista às 10 horas, certo?"), o convite para sentar e, momentos depois, a chamada, pelo dentista ou a higienista (e não pela assistente), sempre de maneira formal, por "Mevrouw (Senhora) + nome de família". Claro que, no consultório, já ninguém me trata por senhora, e sim pelo nome próprio, mas se o dentista ou a higienista tiver de dar uma indicação a uma das assistentes no lobby, volta a tratar-me por senhora, sobretudo se estiverem outros clientes à espera. 

O "Polder Model"

Há duas semanas, tive uma consulta, pela primeira vez, com o implantologista. Nesta situação, já não tratei o médico pelo nome próprio. Era a primeira vez que o via (e possivelmente a única, após as conclusões a que chegámos) e mais velho que eu. No entanto, tivémos uma conversa muito agradável. Quando lhe disse que era portuguesa, contou-me que tinha estado há umas semanas em Cascais num Congresso Internacional, que se tinha alojado no Hotel Villa Italia e visitado o Guincho e a Cidadela. Ainda conversámos um pouco mais e fiquei a saber que estão a chegar muitos dentistas portugueses à Holanda (!) No meio disto tudo, avaliámos em conjunto, as diversas opções para a minha situação, sendo que, as decisões estiveram sempre do meu lado. Ao longo da conversa, não pude deixar de reparar nas perguntas objectivas - muito à holandesa - sobre quais os meus motivos, objectivos e plano de tratamento em vista, bem como, no ambiente "polder model" de diálogo entre nós, baseado na exposição e discussão franca das opções e na avaliação conjunta das mesmas. Gostei muito. Nada de directivas, imposições e ordens,  transmitidas de forma soberba, mas antes, análise e reflexão conjunta, cultura de responsabilidade individual (daí as perguntas iniciais sobre as minhas motivações, objectivos e planos) e de compromisso, materializada no design de um plano de tratamentos entre as partes e que ficará por escrito, step by step.

Higiene Oral

Na semana passada, voltei à clínica para uma consulta com o higienista oral. Desta vez, nem demorou muito tempo, pois já estou muito melhor. O Stanley acabou por me explicar mais em detalhe as propostas do Mark (foi assim que ele se referiu ao implantologista) para a minha situação e disse-me que o Maarten irá enviar-me o plano para casa, indicando com que odontologista devo prosseguir os meus tratamentos. Ao olhar para o Stanley e ao reparar na forma como estávamos a conversar, não pude deixar de sorrir para mim própria, ao lembrar-me que não gostei muito dele no início - ou melhor, do tratamento que ele me deu na minha primeira consulta de higiene oral...

Inicialmente, julgava que era o dentista que faria a limpeza semestral, por ser assim que costumava fazer em Lisboa, mas não. O Maarten disse-me que eu deveria marcar uma consulta específica de Higiene Oral e assim fiz. Pensei que seria uma consulta rápida e que passariam com o ultrasound nos dentes e já estava - era assim, que o dentista, em Lisboa, costumava fazer. Nada disso. O Stanley começou por limpar os dentes com um gancho, esgravatando por tudo o que era lado. As gengivas sangravam e ele vá de esgravatar, com outros ganchos e afins... Depois utilizou os palitos de limpeza, e por fim, passou com o ultrasound, o polidor e o gel. Cheguei a casa um bocado atordoada. Lembro-me de dizer ao meu marido, que nunca mais queria ser consultada por "aquele bruto"... ;-))

Nas consultas posteriores, já com a Angelique, aprendi a lavar os dentes como deve ser e a utilizar correctamente os palitos de limpeza. Aliás, primeiro tive que exemplificar como lavava os dentes e utilizava os palitos e depois, em frente ao espelho, praticar de acordo com as orientações que a Angelique ia dando. Hoje, tenho uma percentagem de 20% de placa bacteriana e o meu objectivo é chegar a menos de 10%. A percentagem é dada pela utilização de um produto vermelho que não sei o nome. Neste momento, uso escova eléctrica e sou muito mais rigorosa na utilização dos palitos e do elixir.

Em Portugal, nunca tinha sido consultada por um Higienista Oral e lavava os dentes de forma, como direi...? Instintiva? Foi assim, que cheguei aos 37 anos, com vários problemas de Saúde Oral e sem saber como lavar os dentes de forma eficiente. Cheguei a sentir-me do Terceiro Mundo durante as consultas com a Angelique - que é uma querida -, devido à minha ignorância e à minha parvoíce também. Em Portugal, há Higienistas Orais e há muito que devia ter tomado a iniciativa de marcar uma consulta destas.

O Agendamento das Consultas, Multas e Anestesias

E por falar em consultas...
A forma como estas se organizam por aqui é diferente da forma a que estava habituada em Portugal. No nosso país, à beira-mar plantado, marcava a consulta por telefone, sabendo à priori que não iria ser atendida àquela hora, mas sim à volta de, que apanharia algumas "secas", nas salas de espera, sem saber também, quanto tempo duraria a consulta, pois isso dependeria da situação encontrada pelo dentista. Aqui é exactamente ao contrário. A parte de poder marcar a consulta por telefone mantém-se, mas a hora marcada é respeitada e sabemos à priori quanto tempo vamos estar no consultório. A forma como isto é feito é muito simples. Marco a consulta semestral de controlo, a qual dura no máximo 10 minutos. Nessa consulta, o dentista avalia a minha situação e diz-me o que há a fazer e o tempo que necessitamos para cada situação. A partir daí, marcamos as próximas consultas, de acordo com o tempo necessário a cada uma (pode ser o dentista ou a assistente a fazer isto). Uma vez que todos os pacientes fazem o mesmo, o dentista sabe sempre ao que vai no dia seguinte, que terá o tempo necessário para cada paciente e nenhum ficará "à seca" na sala de espera. 

A propósito, as consultas de controlo também podem ser marcadas no site. Basta aceder à agenda do médico, que me indica quais as horas que ele ainda tem disponíveis. Outro aspecto que também me agrada muito é o facto de poder fazer as radiografias na clínica, não precisando de gastar mais tempo a ir a outros lados.

E agora, a cereja no topo do bolo: em caso de faltarmos à consulta, sem um aviso prévio de 24 horas, pagamos uma multa. Ainda me lembro quanto me custou pagar €50 quando faltei a uma consulta e não pude avisar. Na altura, fiquei muito aborrecida, mas acabei por compreender o princípio, claro. Há que respeitar o tempo de todos e de cada um e sermos responsáveis.

No entanto, o facto que mais me surpreendeu e me deixou em estado de choque, foi quando o meu dentista me perguntou: "Com ou sem anestesia?", quando nos preparávamos para fazer um tratamento. "'What?! É claro que é com anestesia!!" disse eu, aterrorizada com a possibilidade contrária. E ele respondeu: "Sendo assim, é mais caro...". Nunca, como na Holanda, tive tanta noção do custo de cada parcela no total das contas...Sim, porque o mesmo se passa noutros serviços, acerca dos quais falarei, nos próximos posts...;-)

10 comments:

APS said...

Dá-se o caso (quase coincidente) que, no próximo dia 8...lá vou eu - Higiene Oral. Não quero fazer publicidade à minha clínica mas, embora cara, é muito boa. E também distinguem: tenho um dentista e um higienista.
Quanto aos tratamentos, isto por cá já vem de longe. No séc. XVIII já se distinguia, com "rigor" o Vossa Mercê do V. Senhoria, e quejandos, interminavelmente...
E agor ainda há mais os pseudo-Doutores!...

Presépio no Canal said...

APS, como se chama essa clínica? Às vezes, pode dar-me jeito, por exemplo, quando vou de férias ou de visita. Preciso mesmo de uma boa referência... Em PT, sempre tive bons clínicos gerais, ginecologistas e oftalmologistas, mas dentistas (e tentei vários), not so lucky, I'm afraid...

APS said...

É a Maló Clinic(a) e fica perto da Universidade Católica. Mas uma Higiene Oral fica por 80 euros, Sandra...
Uma boa noite!

Presépio no Canal said...

Obrigada, APS. ;-) É sempre bom ter uma referência de confiança. Não me importo de pagar quando vale a pena. Sai muito mais caro desfazer as asneiras que nos fazem...Boa noite! :-)

Angela said...

Gostei do que li, Sandra.
Ainda não fui a nenhum dentista cá. Tenho o meu em PT (já lá vou há perto de 20 anos), é dos mais caros da Madeira mas é excelente - e com isto quero dizer que, para além de achar que ele faz um óptimo trabalho, nunca sinto nada!
Por isso esperei para ir fazer a higienização em PT durante o Natal e, felizmente, não tive problemas de saúde oral durante a gravidez.
Mas lá para o final do ano, vou ter que me aventurar e fazer uma higienização cá. Quanto mais cedo encontrar um bom dentista e um bom higienista aqui, melhor.
Bjinhos

Presépio no Canal said...

Em Utrecht, não tenho referências de nenhum dentista. Mas sei que há portugueses a viver lá e com blog. Talvez te possam ajudar, indicando um consultório que seja bom e de confiança. De qualquer das formas, verifica se há dentista no centro de saúde em que estás inscrita. Pode ser que tenhas sorte, sem ser necessário procurar muito...;-)
Bjinhos!

GL said...

Como sempre gosto de fazer, quero lêr este post com calma.

Para já, apenas um beijinho.

Ai os caixotes!...

Presépio no Canal said...

Obrigada, GL, pela atenção. :-) Muito querido da sua parte. :-)
Sei bem como as mudanças dão trabalho...
Beijinho e tudo a correr bem! :-)

GL said...

OOOOBBBBRRRRIIIIGGGAADDAA!!!

Ui, isto é quase um pesadelo!

Beijinho.

Presépio no Canal said...

Imagino, imagino...Coragem!! E cuide-se! Às vezes, quando andamos embrenhadas nas mudanças, perdemos a hora das refeições e tudo...
Beijinho! :-)